segunda-feira, dezembro 06, 2010

Eu realmente tenho muito mais sonhos do que imagina a minha vã ideologia.

Casa nova

Mudar é algo que sempre me inspira. O ritual de embrulhar pratos e canecas em jornais, guardar livros e perfumes em caixas, é muito significativo para mim. Às vezes tenho a impressão de que passei a vida toda fazendo isso. Mudar sempre dá um frio na barriga, um medo do novo, uma expectativa do que está por vir e muitas coisas a se pensar. Essas sensações preenchem uma necessidade que tenho de estar sempre em movimento.

A fase que deixo para trás foi vivida no centro da cidade, com amigos, apartamento grande e agitado, pouca intromissão da família. Por ali passaram alguns namorados, ali terminei a faculdade, li muitos livros, envolvi-me profundamente na política e acho que cresci um pouco.

Antes disso me lembro de família, colchões no chão e até mesmo uma época com muitas baratas. Agora sigo para um lugar menor, onde vou reencontrar a solidão e fazer as pazes com ela. Um lugar com cara de Fran, onde eu possa fritar ovos de calcinha e sutiã, e ler tranquilamente as obras para o prova do mestrado.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Responsabilidades

Ela contou que tinha medo de estar sendo irresponsável. Era sobre isso que as pessoas lhe falavam todo o tempo. Estava querendo mudar tudo, de casa, de vida, de trabalho. Mandavam-na pensar em aluguéis, prestações e combustível. Ela já tinha aprendido que na vida as coisas mudam aos poucos, mas algo forte a fazia querer mais e mais aquilo tudo, e tudo ao mesmo tempo. Então a amiga lhe chacoalhou e disse: “Você tem 22 anos, não 35 e não 50. Olhe onde você está, olhe tudo que você já fez, olhe as coisas com o que você se preocupa. E nunca mais venha me dizer que você é irresponsável”.

Isso foi o bastante. Ela anotou a frase para repetir a quem quer que viesse a lhe questionar.

domingo, outubro 17, 2010

Eu não tinha nada, além dos meus onze anos e muitos sonhos. Ainda lembro-me da cidade fria e da sensação de rodar a cadeira ouvindo Bandolins...

sexta-feira, outubro 15, 2010

sexta-feira, outubro 08, 2010

Acabou!

Foram quase cinco anos. Eram para ser quatro, mas nem o tempo, nem o dinheiro, nem a genialidade sobraram nesse período. Acabou a adolescência, acabaram as brincadeiras, as brigas bobas, as preocupações com provas e trabalhos, as paqueras, os desentendimentos com alguns professores e a adoração por outros.

Eu ainda não havia sentido isso tão forte. Há mais de um ano minha principal meta era me livrar daquele lugar. Acho que era a de todos nós... Mas na última semana começaram os preparativos para a colação de grau. Uma baboseira! Vão me fazer jurar por Deus que vou ajudar a sociedade com o meu trabalho e tals. Não que eu não queira fazer isso, só não queria jurar por Deus. Nem queria que o pastor colocasse um chapéu idiota na minha cabeça. A questão não é a cerimônia, é o que ela significa e o que ela está movimentando nessa semana. Há muitos emails divertidos da turma que está se formando na minha caixa novamente. Ontem sentamos no auditório, ouvimos recomendações e fizemos um pouco de bagunça juntos, isso tudo me deu saudades da sala de aula.

Na próxima semana, nesse mesmo horário, serei uma pessoa formada, com o privilégio de preencher fichas de consultórios com a profissão “jornalista”. Mas também serei mais adulta. Ser estudante era a minha última oportunidade de fazer coisas insanas e não ser punida. Agora não vai mais dar para matar aulas no bar. Eu simplesmente estarei no bar sem nenhum peso na consciência, e isso não faz sentido.

Daquele lugar levo a admiração por pouquíssimas pessoas, algum conhecimento, um diploma e o meu grande amor. Isso não é pouca coisa. Vai ter que constar na minha biografia.

quarta-feira, setembro 29, 2010

"O mundo terá se fodido de vez - disse então - no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga."

~ Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Márquez ~

domingo, agosto 29, 2010

Lembranças

Um sissy bar
Tomar banho ouvindo o trecho de um livro
Dirigir seguindo uma moto
Esquecer o fim de um verso
Um bongô
A coxia
E o partido
Um aperto forte na cintura pra dançar
Um site
Uma viagem
Um filme
Uma piada
Um stripe tease
A minha cama
A sua cama
Uma escova de dentes
Uma caixinha cor de rosa, e um balão que ainda não murchou
Diminutivos
Farofinha

sexta-feira, agosto 20, 2010

Há que se desconfiar

Quando o desespero é menor
Há que se desconfiar que seja mais amor
Mais idade
Ou menos paixão

Voltou

Gostou de alguns
Outros a adoraram
Foi indiferente a uns tantos,
E o sentimento foi recíproco
Ele foi o único que a amou tanto ao ponto de fazê-la amá-lo
Agora as noites de frio voltavam
Trazendo consigo aquele antigo sentimento de solidão

sábado, agosto 14, 2010

Carta ao MEC sobre veto às bancas

Joinville, 13 de agosto de 2010


Ao Ministério da Educação
C/C para o Ministério Público Federal
C/C Bom Jesus Ielusc

Somos estudantes da Associação Educacional Luterana Bom Jesus/ Ielusc, sediada em Joinville, Santa Catarina. Estamos nos graduando no Curso de Comunicação Social, com habilitações em Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Elaboramos nossas monografias no primeiro semestre de 2010 e tínhamos nossas bancas avaliadoras agendadas para a semana entre os dias 09 e 13 de agosto. Porém, fomos surpreendidos por uma violenta interferência da direção geral da instituição no processo pedagógico da apresentação de trabalhos de conclusão de curso. No dia 06 de agosto a apresentação das pesquisas foi adiada sem nenhuma explicação aos alunos. No dia 11, a direção geral comunicou a três professores avaliadores e dois professores orientadores que esses estavam “desconvidados” a participar de nossas bancas.
De acordo com o coordenador de ensino superior do Ielusc, pastor Leandro Otto Hostätter, a justificativa dessa decisão arbitrária é de que o diretor geral da instituição, pastor Tito Lívio Lermen, sentiu-se ofendido por esses professores. A atitude seria uma retaliação a uma carta aberta à comunidade do Bom Jesus/Ielusc, subscrita por 19 ex-docentes – entre eles os dois avaliadores convidados. Os dois professores orientadores destituídos acompanharam seus alunos por todo período de formulação do trabalho e foram demitidos no final do primeiro semestre de 2010.
Ao todo, seis alunos tiveram suas bancas prejudicadas e outros nove, cujos professores foram mantidos, adiadas. Há uma semana da nova data agendada, a direção do curso ameaça indicar unilateralmente a reposição dos professores faltantes no grupo avaliador e mostra-se intransigente em todas as tentativas de diálogo com alunos, professores e coordenação dos cursos. Tememos pela conclusão de nossos cursos.
Perguntamo-nos como seremos avaliados sem a presença de nossos orientadores, responsáveis, junto a outros dois avaliadores, pela composição da nota final de nosso trabalho. O orientador é o responsável e o único capacitado para avaliar o empenho do acadêmico ao longo do trabalho, seu interesse pelo assunto e pela atividade intelectual, o grau de aprendizado e de aprimoramento pessoal e intelectual revelado entre o início e o fim do trabalho, a constância no contato com o orientador, o respeito ao cronograma, etc.
Em relação à decisão do diretor geral sobre os avaliadores, consideramos uma afronta ao projeto pedagógico do curso de Comunicação Social. O Regimento para monografias do curso é claro a respeito da possibilidade de convidar professores de outras instituições para as bancas avaliadoras.
A escolha desses avaliadores é empreendida de forma consensual entre aluno e orientador que, ao final do semestre, informam à coordenação de monografias. Os nomes dos avaliadores escolhidos por nós constam, inclusive, no protocolo de entrega dos trabalhos, o que ocorreu no dia 14 de julho. Essa prática consolidou-se como instrumento para a qualificação do debate e o estímulo à criatividade nas interpretações dos textos. Agora, tal direito nos é cerceado.
Diante disso, recorremos ao MEC e pedimos a imediata intervenção nesse processo, para que a composição das bancas avaliadoras sejam mantidas em seu conjunto e o calendário de sua realização de pronto organizado.

Certos de sua atenção e compreensão com relação ao curto prazo de que dispomos para a resolução dessa situação, aguardamos resposta.


Francine Hellmann
Estudante Jornalismo
(avaliador vetado)

Ana Carolina da Luz
Estudante Jornalismo
(avaliador vetado)

Carolina Wanzuita
Estudante de Jornalismo
(banca adiada)

Camila C. Prochnow
Estudante de Jornalismo
(banca adiada)

Mariê Balbinot
Estudante de Publicidade e Propaganda
(orientador vetado)

Daniel Teixeira
Estudante de Publicidade e Propaganda
(banca adiada)

Fabianna Motta dos Santos
Estudante de Publicidade e Propaganda
(orientador vetado)

Ariadna S. Straliotto
Estudante de Jornalismo
(banca adiada)

Rafaela Mazzaro
Estudante de Jornalismo
(banca adiada)

Diretório Acadêmico de Comunicação Social Cruz e Souza

sexta-feira, agosto 13, 2010

Carta do professor Jacques Mick sobre o veto nas bancas de monografia

Florianópolis, 12 de agosto de 2010.

Para Diretório Acadêmico Cruz e Sousa


Fui comunicado na noite de terça-feira, pelo coordenador de ensino superior do Ielusc, p. Leandro Otto Hofstätter, que por ordem do diretor geral, p. Tito Lívio Lermen, minha participação na banca da monografia “O pecado original do PT: A constituição do Partido dos Trabalhadores em Joinville”, da aluna Francine Hellmann, do Curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc foi unilateralmente cancelada.

Leandro justificou a decisão arbitrária e desrespeitosa com um argumento inaceitável: o
cancelamento é uma retaliação de Tito à minha participação na carta aberta à comunidade do Bom Jesus/Ielusc, subscrita por 19 ex-docentes. Tito avalia que, ao endossar críticas que o atingem diretamente, eu teria quebrado a “confiança” que ele teria em mim – e, por tal razão, determinou que eu não mais participasse da banca.

Há muito a dizer sobre os significados da ação de Tito. Como pontos de partida, tomo o projeto político pedagógico do curso de Comunicação Social e o plano de desenvolvimento institucional do Ielusc – dois documentos que perderam o sentido, à luz da decisão do diretor geral.

Ironicamente, um dos valores da instituição é a “alegria em recriar e ressignificar o espaço de diálogo humano”. A censura de que fui vítima, evidentemente, é a negação do diálogo. Não é um problema menor. O documento que consolida a política educacional da IECLB afirma, textualmente, que “um dos princípios da dignificação do ser humano é o respeito à sua individualidade. [...] [D]eve-se salvaguardar o direito à individualidade e promover a autonomia de pensamento, que consiste na capacidade de reflexão crítica, no discernimento e na tomada de decisões. A relação entre educador e educando acontece através da experiência dialógica, que é caracterizada pelo saber ouvir, pelo respeito mútuo, pela cumplicidade e pela criticidade. Essa relação não precisa se dar necessariamente no nível do mesmo conhecimento, mas, essencialmente, no acesso às condições dignas de viver em sociedade e de experimentar e produzir conhecimento.”

A decisão de Tito despreza o projeto pedagógico do curso de Comunicação, construído coletivamente durante muitos anos pela maioria dos professores. A participação de professores de outras instituições em bancas de avaliação de TCCs consolidou-se como instrumento para a qualificação do debate e o estímulo à criatividade nas interpretações dos textos. Momentos
memoráveis na história do curso estão relacionados a tais participações, em bancas assistidas por dezenas e, mais raramente, mais de uma centena de alunos. O ato violento de Tito demonstra a incapacidade do diretor geral de compreender o espírito que orienta o PPP, que combina o respeito à tradição dos saberes na área de conhecimento a um modo singular de apreender o inesperado:



Contemplar o desafio da aventura no âmbito mais geral dos acontecimentos
imprevisíveis é procurar responder à dimensão que articula este projeto pedagógico:
o acontecimento é aquilo que advém muitas vezes inesperadamente. Saber lidar com
os acontecimentos é tarefa difícil, mas absolutamente urgente como utopia
acadêmica.

Esse desafio se expressa de duas maneiras. A primeira, quando os cursos são forçados, pelas circunstâncias ou contextos, a dar respostas a problemáticas que lhes são exteriores por delimitação institucional. Trata-se de procurar ser digno daquilo que acontece. Os problemas da fome, do analfabetismo, da cidadania, ou mesmo uma violência, um susto, uma obra de arte que apareçam, exigem reconfigurações maleáveis do aparelho curricular da tradição para dar conseqüência à missão universitária. O que daí advém é a criação de uma Universidade que está em devir.

A segunda maneira é esta da aventura propriamente dita, em que a Universidade não apenas responde aos acontecimentos fazendo-os proliferar, mas também os produz. Segundo Derrida, a Universidade é um lugar de discussão incondicional, onde o que importa é fazer com que algo aconteça, um lugar onde nada está livre de questionamento (2003:15-18). Nesta perspectiva, os cursos do Bom Jesus/Ielusc não são um simples lugar de preparação, mas um lugar de exercício de relações éticas baseadas nos princípios de cidadania. É claro que os papéis que o aluno experimenta em sua trajetória acadêmica não são os mesmos que vivenciará no exercício profissional, mas desde o lugar de aluno ele pode – e deve – experimentar relações de busca, de dedicação, de realização e mesmo de disputas por idéias e por suas concretizações.




Bastaria a referência a “um lugar de exercício de relações éticas” para opor o PPP ao diretor geral.

A decisão de Tito me magoa porque é um desrespeito à aluna (e por extensão a todos os alunos) e à orientadora (e por extensão àquela parte do corpo docente que luta para defender a integridade do PPP). Compor uma banca com avaliadores rigorosos e críticos era um direito do aluno e de seu orientador; a liberdade dessa escolha foi solapada autoritária e desrespeitosamente por Tito. Creio que alunos e professores não irão admitir passivamente esse tipo de violência, que atinge frontalmente a autonomia pedagógica. Combatê-la é uma ação educativa, de afirmação da cidadania, de reiteração de convicções – e é fundamentalmente por isso que escrevo este texto.

Interpreto a decisão, por fim, como um desrespeito pessoal – nos nove anos em que trabalhei no Ielusc, orientei 40 alunos em seus trabalhos de conclusão de curso, participei de mais de 30 bancas como avaliador, publiquei um livro e artigos em livros e revistas na condição de professor da instituição. Divergi muitas vezes de Tito, em privado e em público; apesar disso, cooperei (como, aliás, é de cooperação o espírito da carta aberta dos ex-docentes).

A decisão de Tito revela que cometi um engano. Sempre o considerei um gestor de limitadas competências, incapaz de transmitir a seus colegas de direção as orientações elementares necessárias a que fizessem seu trabalho – mas nunca achei que Tito fosse incapaz de entender e respeitar o que é próprio do ambiente acadêmico: a diferença, a divergência intelectual. Durante o semestre em que fui diretor interino do curso de comunicação, em 2004, lembro que me surpreendi pela falta de informações elementares para que pudesse tomar as decisões inerentes ao cargo: qual deve ser a composição ideal do corpo docente quanto à titulação e carga horária? Qual o valor máximo que a folha de pagamento deve consumir? O que priorizar? Onde e por que reduzir despesas? Trabalhar com Tito, durante aquele semestre, foi semelhante a tripular um navio sem capitão. Achei, no entanto, que as competências limitadas tinham como horizonte apenas esse aspecto – o da gestão – e que haveria, da parte dele, compromisso com a constituição de uma instituição acadêmica de alto nível. Eu estava claramente enganado.

Lamento também a falta de dignidade em que estão mergulhados Tito e seus subordinados diretos. A decisão do diretor geral me foi comunicada por telefone, por um coordenador de ensino aparentemente envergonhado do que fazia. Perguntei a Leandro se ele concordava com esse absurdo – ele esquivou-se atrás das ordens superiores. Desde a leitura de Hannah Arendt do
julgamento de Eichmann, sabemos que esse é o tipo de argumento que endossa a banalidade do mal. O burocrata não sente culpa pelo holocausto (neste caso, pela censura) – ele não vê nada além da hierarquia e da norma.

A retaliação a que fui submetido é um sintoma – um corpo se decompõe. Sei que as instâncias
superiores do Ielusc acompanham as mudanças de gestão impostas desde o início do ano (às quais não preciso me referir, já que a carta aberta o faz plenamente). Nesse contexto, como será interpretada por tais instâncias a decisão de Tito de censurar a composição das bancas? Será ela vista como algo que corrobora a incompetência de Tito para seguir à frente do Ielusc? Ou será legitimada, e o Ielusc será, doravante, pouco mais do que uma escolinha – a escolinha dos amigos do pastor Tito, daqueles que dele não divergem? A segunda alternativa recriaria o tipo de obscurantismo combatido por Lutero – mas estou certo de que Tito tampouco age sob a perspectiva religiosa. O que o motiva é uma mistura do rancor mais vulgar com o provincianismo, a vaidade, o apego miserável ao cargo ou ao salário.

Creio que o DACS saberá dar ao tema a importância que merece. Fiquem à vontade para dar a esta carta a visibilidade que julgarem mais adequada.


Atenciosamente,

Prof. Dr. Jacques Mick

quarta-feira, agosto 04, 2010

Você descobre que deixou de ser brincadeira quando volta diariamente à dedicatória escrita num livro especial.

domingo, agosto 01, 2010

Voltas

O mundo dá muitas voltas.

Nunca antes isso fez tanto sentido.

Sede

Fazia frio e chovia. Era domingo à tarde, ela estava sozinha como há muito não ficava. Havia um misto de prazer e saudades no ar. Saudosismo e melancolia. Ela procurava escrever palavras soltas, observando de vez em quando os carros na rua, através da janela molhada, só para aumentar a sensação chuvosa e solitária.

Reviu todas as fotos antigas. Lembrou de brilhos de gloss, do tempo em que conseguia conversar longamente com os amigos antes de brigar, de bares gays, da liberdade exacerbada, da sinuca, da caneta segurando o coque dos cabelos compridos, da sensação estonteante do álcool, das lágrimas escondidas atrás de sorrisos, do gosto do choro engolido com cerveja, do suor da dança, dos filmes, do sexo por pura teimosia, da paixão nunca resolvida, conformada, renegada e transformada em algo como um carinho muito grande.

Não era saudade, não era desejo de reviver aquelas noites, era sede de poesia, sede de gritar, algo que ela mantinha preso em um alçapão em que colocava o peso do corpo para não deixar fugir.

quarta-feira, junho 23, 2010

Pensar em você morrendo é como morrer.

Sobre o processo de anti-sociabilidade

Sou uma peça que não foi feita para esse quebra-cabeça
Alheia ao mundo
Poucas companhias
Escolhidas a dedo
Sinto-me em descompasso
Meus pensamentos correm como loucos
Minhas palavras não os alcançam
Desisto
Não discuto
E depois nunca mais volto lá
Prefiro as letras
Digitar, apagar, cortar, colar, enter, enter, enter
Não é preciso que eu me exalte
Se eu começar não vou parar
Eu só preciso me levantar
Dar as costas calmamente
E nunca mais voltar

sexta-feira, junho 18, 2010

PS.

Eu gosto especialmente da sacada de os anjos comerem as virgens e do Diabo ser a outra face de Deus.

Pra mim é simplesmente genial.

Poesias, Saramago e coisas importantes para escrever

Eu tenho muitas coisas importantes para escrever. Coisas das quais dependem outras coisas muito sérias.

Mas minha cabeça se entristece com rabiscos de correções vermelhas e eu só consigo pensar que morreu o Saramago.

Eu me sinto realmente triste, pois era muito sua fã. E eu sei que agora todo mundo fala isso e que ele estava bem velhinho e todo mundo já sabia que ele ia morrer. Mas eu fiquei bem triste mesmo.

Lembro de três personalidades cujas mortes me pareceram marcar muito as pessoas. Mamonas Assassinas (que não é necessariamente uma personalidade), Airton Sena e Michael Jackson. A minha vida não mudou nem um milímetro por eles. Mas o Saramago eu queria muito ver um dia.

Eu tenho coisas muito, muito sérias para escrever e lá fora o capitalismo mata milhões de pessoas, mas eu tenho mesmo é vontade de ler poesias.

Quando é que o mundo vai parar para eu tomar um chá?
Amizade

Quando o silêncio a dois não se torna incômodo.

Amor

Quando o silêncio a dois se torna cômodo.

O pior

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.


~ Mário Quintana - Sapato Furado ~

sábado, junho 12, 2010

No meio da rua, não

"– Mas por que você não deita as suas ideias por escrito? – Digo-lhe. Ele entrepara, não sabe se ofendido ou lisonjeado. Explico-lhe:
– É que, por escrito, a gente pode ler em casa com todo o tempo..."

(A vaca e o hipogrifo ~Mario Quintana)

terça-feira, junho 01, 2010

O poeta

Quem mais me fez escrever não foi um amor
Nem dois amores
Nem duas auroras
Não foram poetas reconhecidos
Nem grandes escritores de prosa
Não foram os professores de redação
Foi um conhecido
Não poderia chamá-lo de amigo
Ele escreve poesias há tempos
E melhorou acompanhando meu crivo
Quando leio as coisas que escreve sei que é tão mortal quanto eu
Então tenho vontade de escrever algo
Ele é melhor do que eu
(Muitos diriam que isso não é difícil)
São assim os que inspiram

sexta-feira, maio 28, 2010

Hay que ser realmente idiota para...


Julio Cortázar

"Hace años que me doy cuenta y no me importa, pero nunca se me ocurrió escribirlo porque la idiotez me parece un tema muy desagradable, especialmente si es el idiota quien lo expone.
Puede que la palabra idiota sea demasiado rotunda, pero prefiero ponerla de entrada y calentita sobre el plato aunque los amigos la crean exagerada, en vez de emplear cualquier otra como tonto, lelo o retardado y que después los mismos amigos opinen que uno se ha quedado corto. En realidad no pasa nada grave pero ser idiota lo pone a uno completamente aparte, y aunque tiene sus cosas buenas es evidente que de a ratos hay como una nostalgia, un deseo de cruzar a la vereda de enfrente donde amigos y parientes están reunidos en una misma inteligencia y comprensión, y frotarse un poco contra ellos para sentir que no hay diferencia apreciable y que todo va benissimo. Lo triste es que todo va malissimo cuando uno es idiota, por ejemplo en el teatro, yo voy al teatro con mi mujer y algún amigo, hay un espectáculo de mimos checos o de bailarines tailandeses y es seguro que apenas empiece la función voy a encontrar que todo es una maravilla. Me divierto o me conmuevo enormemente, los diálogos o los gestos o las danzas me llegan como visiones sobrenaturales, aplaudo hasta romperme las manos y a veces me lloran los ojos o me río hasta el borde del pis, y en todo caso me alegro de vivir y de haber tenido la suerte de ir esa noche al teatro o al cine o a una exposición de cuadros, a cualquier sitio donde gentes extraordinarias están haciendo o mostrando cosas que jamás se habían imaginado antes, inventando un lugar de revelación y de encuentro, algo que lava de los momentos en que no ocurre nada más que lo que ocurre todo el tiempo.

Y así estoy deslumbrado y tan contento que cuando llega el intervalo me levanto entusiasmado y sigo aplaudiendo a los actores, y le digo a mi mujer que los mimos checos son una maravilla y que la escena en que el pescador echa el anzuelo y se ve avanzar un pez fosforecente a media altura es absolutamente inaudita. Mi mujer también se ha divertido y ha aplaudido, pero de pronto me doy cuenta (ese instante tiene algo de herida, de agujero ronco y húmedo) que su diversión y sus aplausos no han sido como los míos, y además casi siempre hay con nosotros algún amigo que también se ha divertido y ha aplaudido pero nunca como yo, y también me doy cuenta de que está diciendo con suma sensatez e inteligencia que el espectáculo es bonito y que los actores no son malos, pero que desde luego no hay gran originalidad en las ideas, sin contar que los colores de los trajes son mediocres y la puesta en escena bastante adocenada y cosas y cosas. Cuando mi mujer o mi amigo dicen eso --lo dicen amablemente, sin ninguna agresividad-- yo comprendo que soy idiota, pero lo malo es que uno se ha olvidado cada vez que lo maravilla algo que pasa, de modo que la caída repentina en la idiotez le llega como al corcho que se ha pasado años en el sótano acompañando al vino de la botella y de golpe plop y un tirón y no es mas que corcho. Me gustaría defender a los mimos checos o a los bailarines tailandeses, porque me han parecido admirables y he sido tan feliz con ellos que las palabras inteligentes y sensatas de mis amigos o de mi mujer me duelen como por debajo de las uñas, y eso que comprendo perfectamente cuánta razón tienen y cómo el espectáculo no ha de ser tan bueno como a mí me parecía (pero en realidad a mí no me parecía que fuese bueno ni malo ni nada, sencillamente estaba transportado por lo que ocurría como idiota que soy, y me bastaba para salirme y andar por ahí donde me gusta andar cada vez que puedo, y puedo tan poco). Y jamás se me ocurriría discutir con mi mujer o con mis amigos porque sé que tienen razón y que en realidad han hecho muy bien en no dejarse ganar por el entusiasmo, puesto que los placeres de la inteligencia y la sensibilidad deben nacer de un juicio ponderado y sobre todo de una actitud comparativa, basarse como dijo Epicteto en lo que ya se conoce para juzgar lo que se acaba de conocer, pues eso y no otra cosa es la cultura y la sofrosine. De ninguna manera pretendo discutir con ellos y a lo sumo me limito a alejarme unos metros para no escuchar el resto de las comparaciones y los juicios, mientras trato de retener todavía las últimas imágenes del pez fosforescente que flotaba en mitad del escenario, aunque ahora mi recuerdo se ve inevitablemente modificado por las críticas inteligentísimas que acabo de escuchar y no me queda más remedio que admitir la mediocridad de lo que he visto y que sólo me ha entusiasmado porque acepto cualquier cosa que tenga colores y formas un poco diferentes. Recaigo en la conciencia de que soy idiota, de que cualquier cosa basta para alegrarme de la cuadriculada vida, y entonces el recuerdo de lo que he amado y gozado esa noche se enturbia y se vuelve cómplice, la obra de otros idiotas que han estado pescando o bailando mal, con trajes y coreografías mediocres, y casi es un consuelo pero un consuelo siniestro el que seamos tantos los idiotas que esa noche se han dado cita en esa sala para bailar y pescar y aplaudir. Lo peor es que a los dos días abro el diario y leo la crítica del espectáculo, y la crítica coincide casi siempre y hasta con las mismas palabras con o que tan sensata e inteligentemente han visto y dicho mi mujer o mis amigos. Ahora estoy seguro de que no ser idiota es una de las cosas más importantes para la vida de un hombre, hasta que poco a poco me vaya olvidando, porque lo peor es que al final me olvido, por ejemplo acabo de ver un pato que nadaba en uno de los lagos del Bois de Boulogne, y era de una hermosura tan maravillosa que no pude menos que ponerme en cuclillas junto al lago y quedarme no sé cuánto tiempo mirando su hermosura, la alegría petulante de sus ojos, esa doble línea delicada que corta su pecho en el agua del lago y que se va abriendo hasta perderse en la distancia. Mi entusiasmo no nace solamente del pato, es algo que el pato cuaja de golpe, porque a veces puede ser una hoja seca que se balancea en el borde de un banco, o una grúa anaranjada, enormísima y delicada contra el cielo azul de la tarde, o el olor de un vagón de tren cuando uno entra y se tiene un billete para un viaje de tantas horas y todo va a ir sucediendo prodigiosamente, el sándwich de jamón, los botones para encender o apagar la luz (una blanca y otra violeta), la ventilación regulable, todo eso me parece tan hermoso y casi tan imposible que tenerlo ahí a mi alcance me llena de una especie de sauce interior, de una verde lluvia de delicia que no debería terminar más. Pero muchos me han dicho que mi entusiasmo es una prueba de inmadurez (quieren decir que soy idiota, pero eligen las palabras) y que no es posible entusiasmarse así por una tela de araña que brilla al sol, puesto que si uno incurre en semejantes excesos por una tela de araña llena de rocío, ¿qué va a dejar para la noche en que den King Lear? A mí eso me sorprende un poco, porque en realidad el entusiasmo no es una cosa que se gaste cuando uno es realmente idiota, se gasta cuando uno es inteligente y tiene sentido de los valores y de la historicidad de las cosas, y por eso aunque yo corra de un lado a otro del Bois de Boulogne para ver mejor el pato, eso no me impedirá esa misma noche dar enormes saltos de entusiasmo si me gusta como canta Fischer Dieskau. Ahora que lo pienso la idiotez debe ser eso: poder entusiasmarse todo el tiempo por cualquier cosa que a uno le guste, sin que un dibujito en una pared tenga que verse menoscabado por el recuerdo de los frescos de Giotto en Padua. La idiotez debe ser una especie de presencia y recomienzo constante: ahora me gusta esta piedrita amarilla, ahora me gusta "L'année dernière à Marienbad", ahora me gustas tú, ratita, ahora me gusta esa increíble locomotora bufando en la Gare de Lyon, ahora me gusta ese cartel arrancado y sucio. Ahora me gusta, me gusta tanto, ahora soy yo, reincidentemente yo, el idiota perfecto en su idiotez que no sabe que es idiota y goza perdido en su goce, hasta que la primera frase inteligente lo devuelva a la conciencia de su idiotez y lo haga buscar presuroso un cigarrillo con manos torpes, mirando al suelo, comprendiendo y a veces aceptando porque también un idiota tiene que vivir, claro que hasta otro pato u otro cartel, y así siempre."

domingo, maio 09, 2010

O casulo

Olho para você e percebo na umidade dos seus olhos se hoje é ou não um dia feliz.
Sento e te observo tocando violão. Tua voz me faz prestar atenção em letras nunca antes percebidas. Escutar-te cantar é algo como entrar em outra dimensão, de paz e gozo.

Mas às vezes o mundo bate à porta e te arranca violentamente desse silêncio d'alma. Desse muro que te envolve e que foi tão cuidadosamente talhado. Então você se fecha num casulo onde só há uma música alta, que ensurdece o mundo, que não deixa o coração escutar os motivos que te fazem chorar.

E eu me sinto com cinco anos observando um amiguinho que chora. Nesse momento eu sou você e tudo também dói em mim e é dos meus olhos que as lágrimas escorrem.

Depois você me abraça, escuta as batidas do meu coração e já não sabemos quem sou eu e quem é você.

segunda-feira, abril 26, 2010

O muro e os dias de chuva

Os últimos dias têm sido chuvosos em Joinville. À primeira vista isso parece redundante, mas a chuva que tem caído não é igual a do restante do ano. É uma chuva gelada, de início de inverno. Uma chuva que foge do cotidiano joinvilense, que torna as pessoas mais tristes, pensativas sobre suas vidas. Ou não. Talvez ela seja exatamente igual às outras e seja exatamente essa sensação introspectiva que me faça a observar de outra maneira. O fato é que há dez minutos olhei para ela e a vi diferente, como quem toma ciência do peso das próprias roupas. Percebi que chovia, distingui a água que agora cai da de todos os dias.
Eu olhava as gotas caindo enquanto pensava sobre mim. Sobre os sorrisos e cafés que já não são mais os mesmos, sobre relações humanas, sobre tentar desabafar e ser interrompido por um comentário qualquer de alguém que você gostaria, mas não estava te ouvindo. Pensava sobre o que um dia foi um grande amor se transformando em asco (talvez um dia indiferença), sobre o que foi uma grande amizade se tornando afastamento, sobre o quanto o mundo girou e sobre o inacreditável que agora se concretiza. Voltei a me sentir, sozinha, perante tudo o que há, de uma forma que há muito tempo não conseguia. E isso não foi ruim, nem exclui as pessoas que amo, apenas as coloca perante mim, sozinha. Egoísmo? Individualismo? Alguém que foi mais e menos que um amigo certa vez me disse que eu era muito cheia dos ismos. Eu o chamei de pós-moderno, mas no fundo sabia que estava certo. É estranho ser plenamente convencida de alguma coisa tão surreal. Ainda mais estranho é inverter as coisas e enxergar como surreal tudo aquilo que não é o que você acredita.
Às vezes tenho medo de que nada disso faça sentido. Sinto-me presa num mundo que inventaram para mim (falo do mundo que condiz e do mundo que não condiz com minhas ideologias). Temo ainda mais não conseguir atravessar o obstáculo da vez. Eu estou correndo para um muro e não sei como me sentirei em nenhum dos lados dele.

quinta-feira, abril 15, 2010

A explicação das coisas

Porque hoje eu reli um texto de um poeta famoso. Porque eu amo aquele texto e sempre quis me sentir a personagem dele, e porque agora eu te encontrei e tu me amas e me fazes sentir ser ela.

Porque as tardes têm se tornado mais longas esperando te ver, ainda mais agora que combinamos que eu preciso estudar e você não vem aqui todas as noites me cobrir, dar um beijo em minha testa e me desejar boa noite.

Porque, no fim, nem adianta nada, pois quando você está longe eu me desconcentro pensando em você. E porque quando você ameaça ir embora eu enfio a cabeça no travesseiro e juro que não consigo respirar.

Porque você tem uma cara de sambista maroto e porque quando eu te vi de chapéu Panamá pela primeira vez eu me senti em uma novela de época dos anos 30. E porque se eu estiver de saia longa você dá um jeito de descobrir o que tem embaixo. Porque você me olha de um jeito que nunca ninguém me olhou.

Porque um dia você me convidou para subir a serra de moto e a gente passou a tarde inteira falando de Kafka e Bukowski ao lado de uma cachoeira. E porque você é tímido e não encontrou o caminho de me beijar.

Porque a gente forma um casal divertido e algumas pessoas odeiam o nosso jeito melado de ser, porque a gente gosta mesmo é da vida assim, docinha.

Porque você pediu para namorar comigo uma semana depois que a gente se conheceu e porque entende as minhas neuras sobre depilação e me leva tarde da noite para comprar shampoo. Porque você me ajudou a dirigir e está tentando me ensinar a arte de pedir descontos.

Porque você fica tentando me ensinar a tocar bongo e acha bonitinho eu arranhar coisas horríveis no violão. Porque eu estremeço quando você canta e adoro quando você tem ideias loucas. Porque você dança sozinho, me respeita e vai com a cara das minhas ideologias.

Por essas e outras eu fico imaginando nós dois daqui a muitos anos rindo das nossas aventuras incosequentes. Porque eu te amo.

sábado, abril 03, 2010

Cansaço

Naquela noite sentou na janela de seu quarto e ficou observando a rua
Deixou os pensamentos irem longe
Questionou os rumos que a vida estava tomando
Pensou no que queria fazer no futuro
Voltou a refletir sobre quem era e o que a fazia se sentir tão diferente
Das roupas aos pensamentos
Fazia já muito tempo que não exercitava essa livre divagação
Cada minuto livre agora era empregado em leituras ou tarefas sociais
Estava com um pouco de saudades de si mesma

quinta-feira, abril 01, 2010

Atrapalhada

O que a monografia faz com a cabeça da gente:

Ontem eu estava tirando roupas do varal e, sem querer, tirei um lençol ainda úmido. Imediatamente minha cabeça me mandou deletar o que eu tinha feito. No segundo seguinte me dei conta de que eu estava na vida real e teria que estender novamente.

Deitei um pouco na cama e me deu vontade de pegar algum livro na prateleira. Mudei de quarto faz pouco tempo e levantei convicta de ainda estar no antigo espaço. Quase dei com a cara no armário.

domingo, março 28, 2010

Luluzinha

Sentada com quatro camaradas garotos na praça de alimentação de um supermercado, me disseram que o meu blog é de menininha – de “poesiazinhas”.

Muita gente me pergunta – e com certeza eu já me perguntei ainda mais vezes – por que mantenho um blog.

Ele já tem certa idade (e merece respeito)... Em algumas épocas escrevi coisas mais políticas, em outras postei fotos, obras de arte, músicas, vídeos, escrevi sobre o cotidiano ou fiz poesias melhores. Com o passar do tempo o perfil das pessoas que me liam mudou e acho que estragou quando comecei a me preocupar com elas.

Para o Clube do Bolinha informo: gosto de rosa, de ursinhos, choramingo de paixonite, não sei estacionar o carro, sou menina, comunista e escrevo por teimosia.

quarta-feira, março 24, 2010

Monografia

Cobraram-me palavras nesse blog. Nunca antes o tempo esteve tão escasso para mim. Mentira, talvez eu já tenha tido menos tempo, mas nunca conjugado com tanto medo de não acabar uma tarefa. Tenho a sensação de que, se não entregar meu trabalho de conclusão de curso no prazo, minha vida sairá completamente dos eixos. Parece que o trem das coisas que eu planejei vai descarrilar.

Estou trabalhando com depoimentos de pessoas que viveram o início do Partido dos Trabalhadores dentro das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, nos anos 1970. Posso garantir que o material que estou encontrando é realmente rico. O meu maior temor é não saber trabalhar com ele.

Vou tentar, às vezes, escrever um pouco sobre essas conversas com pessoas que escreveram um pouquinho da história da nossa cidade. São histórias de trabalho, despertar de consciência, luta contra a opressão, orgulho, poder, fé, desilusão... Histórias com um sentido muito amplo, ou sem sentido, na opinião de alguns que agora observam a crença de toda vida apodrecida, sentada sobre um governo e uma Igreja corrompidos.

Enfim, para citar alguém que li nos últimos temos (cujo nome não lembro, pois têm sido muitos), é grande a responsabilidade do pesquisador. Não se pode entrevistar fontes encarando-as como objetos vomitadores de informação. Comunicar pode dar a essas pessoas a oportunidade de viver novamente.

Espero sinceramente honrar isso.

terça-feira, março 02, 2010

Digno de um tapa na orelha

Já era para eu ter escrito, mas esqueci quando tive tempo e não tive tempo quando lembrei.

Talvez isso faça de mim uma pessoa pior do que os vilões da história que vou contar. Ou não.

Já escrevi algumas vezes sobre a lanchonete do Fórum. Aquele é um lugar que me inspira. Acredito que isso aconteça por eu fugir para lá em horário de trabalho quando alguma coisa me chateia, e esses serem momentos mais reflexivos.

Então... em uma tarde da semana passada eu estava na fila da lanchonete do Fórum (que agora mudou de dono e tem coisas muito mais gostosas). A fila era grande, mas costumo ser paciente nesses momentos. Estava observando a senhora que atendia no balcão junto a uma moça mais nova. No caixa quem cobrava era o dono do estabelecimento. De repente ele gritou com a mulher mais velha de forma inesperada na frente de todos.

“Você não está fazendo as comandas. Já falei que tem que fazer. Não pode mandar as pessoas pra cá sem comanda.”

O caixa ficava a 60 centímetros do lugar em que as meninas atendiam os clientes.

Nesse meio tempo um rapaz estranho com cara de nerd (nada contra os nerds) furou a fila bem na minha frente. Deu vontade de dar um tapa na orelha dele, mas me controlei como uma pessoa civilizada. Ele perguntou para a mesma senhora o que tinha de salgados e ela respondeu que tinha o que estava na estufa. O menino havia presenciado a cena com o patrão e vira tão bem quanto eu como ela estava transtornada. Fazendo-se de ofendido com a resposta prática ele se sentiu no direito de ser ainda mais grosseiro quando perguntou o preço de tudo, virou as costas e disse que não ia levar nada.

Quando ela me atendeu, falei para que ficasse calma e tentei fazer meu pedido bem pausadamente. Sabia que isso não ia resolver os problemas do mundo, mas não consegui ajudar de outra maneira. Queria pegá-la no colo. Saí de lá pensando no caso de nunca mais voltar e aí me questionei se isso seria pior para o patrão ou para ela.

Não sei.

Mochila de Tartaruga Ninja

Pensei uma merda. Foi uma merda que veio de longe, lá do início do meu blog. Aí eu coloquei os fones de ouvido e escrevi freneticamente um texto qualquer (deve ter sido sobre alguma coisa política que eu não me lembro mais).
Depois todos foram embora e eu saí sozinha caminhando pela rua com a minha mochila de Tartaruga Ninja. Atravessei a ponte, peguei a Dona Francisca (a rua) e quebrei na Princesa Izabel. Eu andava e chacoalhava as mãos sobre a cabeça. Quem passava achava que eu espantava moscas, mas na realidade eu espantava pensamentos.

...

A afetividade é uma coisa estranha. Faz a gente desejar que as pessoas sejam felizes. Alguém me explica, por favor, como é que se lida com essas coisas?

sábado, fevereiro 27, 2010

Uma certeza clichê

Tudo aconteceu tão rápido e tão devagar que nunca poderão entender. Estavam lá durante tanto tempo e nem ao menos gravaram os nomes um do outro. E, de repente, ela o achou tão bonito e nunca mais conseguiu largá-lo.
Às vezes ela ainda o olha e se pergunta o que faz deitada ao seu lado. Mas essa sensação de estranheza vai diminuindo na mesma proporção em que cresce a certeza de que nasceram um para o outro. E não importa o quanto isso soe clichê, ela quer gritar bem alto e ponto.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Não sei se a palavra seria nostalgia

Ele me disse que estava namorando e que ia voltar pra cidade dele, e eu lhe contei que também estava amando. Senti uma súbita felicidade por ele e simpatizei de cara com a garota que fisgou seu coração. Ela devia ser realmente especial, pois uma vez ele me contou que não se apaixonava muito fácil. Mais tarde conversei com outro amigo que me falou sobre a vontade de encontrar um amor. Esse eu acho que tem saudades de casa, mas é uma impressão muito minha porque eu acabei não perguntando isso a ele. Pensei sobre essas bifurcações da vida, sobre quem vai, quem fica e quem ama. Sobre quanto o mundo me parecia grande há uns anos e sobre como, de repente, todo mundo está indo embora pra capital. Sobre como eu já briguei e já voltei a adorar alguns dos meus personagens. Dei-me conta do quanto ainda sou nova e da quantidade de histórias que eu tenho pra contar sobre amigos, lugares, família, amores... Aí eu fiquei imaginando como será quando eu tiver uns 90 anos. E me senti muito feliz.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Chegou para completar minha vida
E, vejam só que coincidência...
Conquistou-me com versos de partido.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Personagens

Pense duas vezes antes de pedir para ser apresentado a ela.
Você pode acabar virando apenas um personagem para textos baratos em um blog qualquer.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

No fundo eu gostava do Tonico

No final da noite, no penúltimo dia daquele verão, em um cenário muito diferente do comum, ela fez uma pergunta e ele apenas balançou a cabeça afirmativamente. Um misto de maus sentimentos estourou no peito dela. Aquilo era a única coisa no mundo que ele não poderia ter feito.

Depois de duas noites de sono, uma boa e outra não, ela organizou os pensamentos assim:

Não havia motivos para você estragar tudo, mas você estragou; não bastasse, ainda fez aquilo que só eu dizia que você nunca faria. Uma coisa que me deu muita vontade de vomitar. E eu fico realmente impressionada com a minha capacidade de ainda te amar.

Era algo como um dizer infantil que ela conhecera há muito tempo: “Mãe, ô mãe... o Tonico pisou no meu pé. E ainda por cima roubou o meu saco de pipoca”.