domingo, maio 31, 2009

Esta casa é bem grande. Eu estou sozinha e, hoje, com um pouco de medo. A televisão está ligada para me distrair, mas eu não consigo prestar atenção nela.

sexta-feira, maio 29, 2009

Rizoma

Relembrando...

"...faça rizoma e não raiz, nunca plante! Não semeie, pique! Não seja nem uno nem múltiplo, seja multiplicidade! Faça a linha e nunca o ponto! A velocidade transforma o ponto em linha! Seja rápido, mesmo parado! Linha de chance, jogo de cintura, linha de fuga. Nunca suscite um General em você! Nunca idéias justas, justo uma idéia (Godard). Tenha idéias curtas. Faça mapas, nunca fotos nem desenhos. Seja a pantera cor-de-rosa e que vossos amores sejam como a vespa e a orquídea, o gato e o babuíno..."

quinta-feira, maio 28, 2009

Monografia poética

Não há muita inspiração para escrever grandes obras nesse espaço ultimamente
Acredito que pela calmaria do coração e pela falta de leituras mais poéticas
A culpa é toda da monografia
malvada. egoísta.
nem o surrado livro do velhinho rabugento, Quintana
Nem O Livro dos Abraços
Muito menos terminar O Jogo da Amarelinha ou Cem Anos de Solidão
Impossível manter uma mente lúdica e poética se só o que engulo são teorias da comunicação
E se só no que me aprofundo é na análise de discurso
Mas nem tudo é asfalto
Ontem escutei a seguinte frase:

"É preciso compreender o curso que há no discurso"

Vocês percebem?
Há muito mais além das palavras.

terça-feira, maio 26, 2009

O bilhete do suicida

"A todos
De minha morte não acusem ninguém, por favor, não façam fofocas. O defunto odiava isso.
Mãe, irmãs e companheiros, me desculpem, este não é o melhor método (não recomendo a ninguém), mas não tenho saída.
Lília, ame-me.
Ao governo: minha família são Lília Brik, minha mãe, minhas irmãs e Verônica Vitoldovna Polonskaia.
Caso torne a vida delas suportável, obrigado.
Os poemas inacabados entreguem aos Brik, eles saberão o que fazer.
Como dizem:
caso encerrado,
O barco do amor
espatifou-se na rotina.
Acertei as contas com a vida
inútil a lista
de dores,
desgraças
e mágoas mútuas.
Felicidade para quem fica."

Vladímir Maiakóvski
12/04/1930

Vladímir Maiakóvski matou-se no dia 14 de abril de 1930 e deixou um bilhete.

sexta-feira, maio 22, 2009

Sonho com a pequenina

No meu sonho a levei num consultório médico muito estranho de corredores e ambientes finos e longos. Segui por outro corredor na ânsia de acompanhar uma amiga e a deixei sozinha com enfermeiras desconhecidas. Esqueci-a como já a esqueci em vida muitas vezes. Quando voltei ela estava sentadinha numa cadeira de rodas, de costas para mim, com um dos braços amputados e pequenos dedos que do toco de membro que sobrara haviam nascido. Ela soluçava num estado de angústia cortante. Estava paralizada e muito assustada, como quando brigavam com ela na infância. Gritei com as enfermeiras, gritei muito com elas, mas a culpa era toda minha por tê-la deixado só. Ninguém atendia o telefone para vir nos buscar e eu não conseguia parar de pensar no quão bonita ela era e em quantos traumas ela já tinha.

domingo, maio 17, 2009

Chegou do nada com aqueles olhos do além
Pegou-me pela cintura
e nem perguntou se podia
Não perguntou se eu queria
e ainda contestou meus ideais
Depois foi embora
e deixou em mim
vontade de ir também

sexta-feira, maio 15, 2009

Querias que eu falasse de "poesia"

Querias que eu falasse de "poesia" um pouco
mais... e desprezasse o quotidiano atroz...
querias... era ouvir o som da minha voz
e não um eco - apenas - deste mundo louco!

Mas que te dar, pobre criança, em troco
de tudo que esperavas, ai de nós:
é que eu sou oco... oco... oco...
como o Homem de Lata do "Mágico de Oz"!

Tu o lembras, bem sei... ah! o seu horror
imenso às lágrimas... Porque decerto se enferrujaria...
E tu... Como um lírio do pântano tu me querias,
como uma chuva de ouro a te cobrir devagarinho,
um pássaro de luz... Mas, haverá maior poesia
do que este meu desesperar-me eterno da poesia?!

(Mário Quintana)

segunda-feira, maio 11, 2009

Somos sozinhos e não há nada que possamos fazer para mudar isso
Assim nascemos e assim morreremos
Sempre apenas nós andando pelas ruas correndo atrás da vida
E ninguém nunca escutou meus pensamentos
Nem viu a arte a partir de meus olhos
O que importa é que somos, mas não estamos sós

quarta-feira, maio 06, 2009

Origens

Hoje passei mal de tão cansada. Depois falei sem parar sobre os meus problemas há quantas pessoas me passaram na frente. Então me lembrei dela, e de como ela podia passar dias falando ininterruptamente. Pensei que precisava cuidar pra que a minha vida não tomasse o mesmo rumo. Aí me dei conta de que parece que passei a vida correndo dela por uma longa estrada. Vez em quando olho para trás e espio se ela não está me alcançando. Acho que ela nunca saiu do lugar.

terça-feira, maio 05, 2009

Sobre a arte

Se a minha arte fosse plástica você se assustaria
Com a quantidade de escuridão que há nela
E se a minha dor tivesse som
Você ficaria surdo
E todos os vidros da redondeza quebrariam
Todas as noites na volta para casa
Quando as ansiedades do dia se foram
Há um grande buraco em mim
Estou sozinha
Não há em quem pensar nem com quem contar
Não importa o quanto me digam que há
Ninguém está ao meu lado
E ninguém vê comigo a poesia da lanterna na bicicleta que me distrai
Linda, quase me faz ser atropelada
A minha arte é tão pequena
Tão limitada, tão dependente das palavras
Há tantas palavras que eu não conheço
E mesmo que as conhecesse, não seriam suficientes
O que me dói é ela pulsando em mim
Rasgando as paredes do meu coração
Ai, como arde não saber expressá-la
Queria dividi-la
E é por isso que me sinto tão só
Nunca encontrei alguém
Que veja o que eu vejo
Eu queria devolta o que deixei me roubarem...

A janela

Afastou a cortina verde naquela noite fria e demorou três segundos pra identificar a imagem conhecida da piscina na escuridão do lado de fora. Grudou o nariz no vidro e viu seu rosto refletido. Observou os próprios olhos olhando primeiro para um lado, depois para o outro, de uma forma engraçada. Escreveu bem grande a inicial de seu nome no vidro embaçado e sorriu com os lábios em meia lua, sem mostrar os dentes (como o sorriso da mãe nas fotos). Não era um sorriso de felicidade, posto que seu coração ainda carregava muita tristeza e solidão. Era mais um exercício facial e uma tentativa inconsciente de transmitir ao cérebro bons fluidos. Uns minutos ainda para registrar o momento da forma que sabia fazê-lo e foi dormir. Amanhã será um novo dia, igual a hoje, só que mais frio. Seja feliz, meu pequeno.