domingo, março 28, 2010

Luluzinha

Sentada com quatro camaradas garotos na praça de alimentação de um supermercado, me disseram que o meu blog é de menininha – de “poesiazinhas”.

Muita gente me pergunta – e com certeza eu já me perguntei ainda mais vezes – por que mantenho um blog.

Ele já tem certa idade (e merece respeito)... Em algumas épocas escrevi coisas mais políticas, em outras postei fotos, obras de arte, músicas, vídeos, escrevi sobre o cotidiano ou fiz poesias melhores. Com o passar do tempo o perfil das pessoas que me liam mudou e acho que estragou quando comecei a me preocupar com elas.

Para o Clube do Bolinha informo: gosto de rosa, de ursinhos, choramingo de paixonite, não sei estacionar o carro, sou menina, comunista e escrevo por teimosia.

quarta-feira, março 24, 2010

Monografia

Cobraram-me palavras nesse blog. Nunca antes o tempo esteve tão escasso para mim. Mentira, talvez eu já tenha tido menos tempo, mas nunca conjugado com tanto medo de não acabar uma tarefa. Tenho a sensação de que, se não entregar meu trabalho de conclusão de curso no prazo, minha vida sairá completamente dos eixos. Parece que o trem das coisas que eu planejei vai descarrilar.

Estou trabalhando com depoimentos de pessoas que viveram o início do Partido dos Trabalhadores dentro das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, nos anos 1970. Posso garantir que o material que estou encontrando é realmente rico. O meu maior temor é não saber trabalhar com ele.

Vou tentar, às vezes, escrever um pouco sobre essas conversas com pessoas que escreveram um pouquinho da história da nossa cidade. São histórias de trabalho, despertar de consciência, luta contra a opressão, orgulho, poder, fé, desilusão... Histórias com um sentido muito amplo, ou sem sentido, na opinião de alguns que agora observam a crença de toda vida apodrecida, sentada sobre um governo e uma Igreja corrompidos.

Enfim, para citar alguém que li nos últimos temos (cujo nome não lembro, pois têm sido muitos), é grande a responsabilidade do pesquisador. Não se pode entrevistar fontes encarando-as como objetos vomitadores de informação. Comunicar pode dar a essas pessoas a oportunidade de viver novamente.

Espero sinceramente honrar isso.

terça-feira, março 02, 2010

Digno de um tapa na orelha

Já era para eu ter escrito, mas esqueci quando tive tempo e não tive tempo quando lembrei.

Talvez isso faça de mim uma pessoa pior do que os vilões da história que vou contar. Ou não.

Já escrevi algumas vezes sobre a lanchonete do Fórum. Aquele é um lugar que me inspira. Acredito que isso aconteça por eu fugir para lá em horário de trabalho quando alguma coisa me chateia, e esses serem momentos mais reflexivos.

Então... em uma tarde da semana passada eu estava na fila da lanchonete do Fórum (que agora mudou de dono e tem coisas muito mais gostosas). A fila era grande, mas costumo ser paciente nesses momentos. Estava observando a senhora que atendia no balcão junto a uma moça mais nova. No caixa quem cobrava era o dono do estabelecimento. De repente ele gritou com a mulher mais velha de forma inesperada na frente de todos.

“Você não está fazendo as comandas. Já falei que tem que fazer. Não pode mandar as pessoas pra cá sem comanda.”

O caixa ficava a 60 centímetros do lugar em que as meninas atendiam os clientes.

Nesse meio tempo um rapaz estranho com cara de nerd (nada contra os nerds) furou a fila bem na minha frente. Deu vontade de dar um tapa na orelha dele, mas me controlei como uma pessoa civilizada. Ele perguntou para a mesma senhora o que tinha de salgados e ela respondeu que tinha o que estava na estufa. O menino havia presenciado a cena com o patrão e vira tão bem quanto eu como ela estava transtornada. Fazendo-se de ofendido com a resposta prática ele se sentiu no direito de ser ainda mais grosseiro quando perguntou o preço de tudo, virou as costas e disse que não ia levar nada.

Quando ela me atendeu, falei para que ficasse calma e tentei fazer meu pedido bem pausadamente. Sabia que isso não ia resolver os problemas do mundo, mas não consegui ajudar de outra maneira. Queria pegá-la no colo. Saí de lá pensando no caso de nunca mais voltar e aí me questionei se isso seria pior para o patrão ou para ela.

Não sei.

Mochila de Tartaruga Ninja

Pensei uma merda. Foi uma merda que veio de longe, lá do início do meu blog. Aí eu coloquei os fones de ouvido e escrevi freneticamente um texto qualquer (deve ter sido sobre alguma coisa política que eu não me lembro mais).
Depois todos foram embora e eu saí sozinha caminhando pela rua com a minha mochila de Tartaruga Ninja. Atravessei a ponte, peguei a Dona Francisca (a rua) e quebrei na Princesa Izabel. Eu andava e chacoalhava as mãos sobre a cabeça. Quem passava achava que eu espantava moscas, mas na realidade eu espantava pensamentos.

...

A afetividade é uma coisa estranha. Faz a gente desejar que as pessoas sejam felizes. Alguém me explica, por favor, como é que se lida com essas coisas?