segunda-feira, agosto 31, 2009

Ele mal chegou
E logo se vai
Vai embora ser grande
Mostrar a todos quão grande sempre foi
Vai embora
Liderar grandes massas
Pilotar grandes máquinas
Namorar grandes mulheres
Nosso laço é delicado e muito forte
E nunca mais vai se romper
Por que pra onde quer que nossas vidas nos levem
Um dia já habitamos os sentimentos um do outro
E isso ninguém nunca vai poder mudar

sexta-feira, agosto 28, 2009

Momento de rabugisse da autora

Será que se eu simplesmente levantasse e fosse para a praia eu morreria de fome? Será que mandariam a polícia atrás de mim? Bom, eu sou uma pessoa honesta, pago meus impostos e só às vezes me envolvo em agitações. Mesmo assim a polícia costuma me achar sentada nas praças por aí. E eu nem sou do tipo sem classe que fica bebendo vinho barato. Sou do tipo que uso uma boininha verde e senta com muita delicadeza no balanço. Não se pode mais ter uma noite poética nesta cidade?

E se eu simplesmente me negasse a fazer um lead outra vez? Será que agarrariam meus braços e obrigariam meus dedos a digitar novamente? Acho que o difícil seria intervirem no meu cérebro, já que, mesmo que não pareça, é preciso ter um para escrever qualquer coisa que seja. Mas provavelmente eu morreria de fome. Hoje, depois do almoço, pensava enquanto andava solitária na rua: não é que eu goste muito do que faço, mas é que essa é a única coisa que eu queria fazer. Além, é claro, de inventar um novo estilo literário e ganhar o Nobel de literatura – mas isso é para daqui há muito tempo, quando a minha maturidade me fizer superar a preguiça de continuar projetos após os primeiros obstáculos.

E se eu fosse visitar os meus avós? Não, não. Minha avó me diria: garota, você não vem mais aqui. Prefiro continuar não indo a ouvir. E o final do meu curso? Será que eles não percebem que eu não vou mais aprender nada de novo naquele lugar? Daqui pra frente é inevitável que eu apenas enrole. Devia haver uma forma de avaliação assim: cansou? Então toma o teu diploma e vai se virar.

Por que as pessoas gostam de ler pornografias no banheiro? Na casa onde moro há um livro do Dalton Trevisan ao lado do vaso sanitário que faz muito sucesso. Eu já sabia, mas hoje sistematizei na minha cabeça o motivo pelo qual minhas histórias nunca são totalmente fictícias. Não sei colocar nomes nas minhas personagens. Nunca ficam reais o suficiente. Mas eu sei inventar histórias para personagens verdadeiras – ah, não me venham com hipocrisias. Todo mundo já inventou histórias num momento de desespero, em uma aula de redação jornalística. Não? Desculpe, eu sim. E foram as melhores coisas quase reais que eu já produzi.

Queria ter uma vida meio Sex and the City, mas não gosto da Vogue, não consigo me apaixonar tanto por sapatos e tenho pouquíssimas amigas meninas. As mulheres são, na maioria das vezes, chatas, frescas e não morrem nunca. Se morressem, ao menos eu escreveria algo bem bonito sobre elas.

A morte de Geraldo Mayrink*

Não sei por que, mas achei esse texto realmente bonito. Sou nova neste mundo de tentar saber tudo sobre o jornalismo e nunca tinha ouvido falar deste cara. Também não acredito que exista qualquer tipo de vida após a morte e por isso me recuso a dizer coisas do tipo "ele vai gostar de onde estiver", mas acho que a vida das pessoas deve ser encarada com muito respeito. Todas as vidas merecem ser contadas com carinho num texto bonito, mas algumas soam mais poéticas.


"A caminho de casa fico sabendo, pelo Twitter, da morte do Geraldo Mayrink, nesta quinta-feira.

Mayrink foi um dos grandes textos da imprensa brasileira. Quando entrei na Veja, foquíssimo, em setembro de 1970, a revista já tinha se embrenhado em um texto rococó terrível, com uma adjetivação pesada praticada por quase todos os redatores e editores.

Havia quatro textos que escapavam do estilão: do Geraldo, do Tão Gomes Pinto, do Renato Pompeu e do Elio Gaspari.

Geraldo era o mais admirado. Crítico de cinema, conseguia produzir análises saborosíssimas, recheadas de ironia, no espaço exíguo de uma revista semanal. Suas imagens, como por exemplo do ator “expressivo como um helicóptero”, e outras do gênero, eram motivo de diversão e de admiração geral.

E ele sempre com aquele jeito pacatão, nenhum deslumbramento, sabendo rir de si próprio, quando dizíamos que ele era clone de Dolores Del Rio, atriz de faroeste meio queixuda, que nem ele.

Lembro-me nitidamente de uma tarde na Veja, uma roda se formando em torno do Mayrink. Cada frase dele era celebrada com risadas superiores de colegas que lançavam olhares cúmplices como que dizendo, essa ironia, eu captei.

Eu estava recém-chegado de Minas, o Geraldão Hasse - outro belíssimo texto mas, naqueles tempos, apenas um pouco menos foca que eu - chegado de Porto Alegre. Veja era um deslumbramento só. Sob o comando do Mino, a revista explodira. Ser da Veja, na época, representava o mesmo que, anos depois, representaria ser da Globo - lembrando o Bozó, personagem do Chico Anísio.

Enquanto os colegas riam das ironias do Mayrink, o Hasse e eu trocávamos ideias. Não tínhamos identificado nenhuma ironia em determinada frase, para que provocasse tantas leituras e risadas dos colegas. Esperamos a roda se desfazer e fomos passar a limpo nossa suspeita.

- Mayrink, o que você quis dizer com aquela frase, que todo mundo riu.

E ele, com aquele ar de boi sonzo, mas só cara, porque espirrava ironia por todos os poros:

- Uai, não quis dizer nada. Também não sei porque eles riram.

Quando se tornou editor de Artes e Espetáculos, quase me transformou em crítico de Artes da revista. Em São Paulo houve a exposição de um futurista italiano e, repórter alocado na editoria de Artes e Espetáculos - mas só para matérias de música - fui incumbido de cobrir a mostra.

Fui para o Dedoc (o Departamento de Documentação da Abril), passei uma tarde lendo livros de artes e assimilando o linguajar e os tics dos críticos. Voltei com um texto em que reproduzia o padrão dos críticos.

Mino gostou tanto que chamou o Geraldo na sua sala e disse que tinham finalmente descoberto quem poderia preencher o cargo de crítico de Artes. Mayrink veio falar comigo com um ar de suprema gozação. Ele tinha captado meu estratagema. Passamos uma hora discutindo como escapar daquela enrascada. Acabamos concluindo que a única maneira seria admitir, ao Mino, que eu não entendia nadica de nada de artes plásticas.

Mayrink não era apenas o grande texto da Veja. Era também o grande caráter. Na greve de 1978, três editores foram à assembléia, no Sindicato, com falsa pose de vítimas. Diziam que editor tinha cargo de confiança. Se a redação quisesse, eles também fariam greve. Mas apenas eles pagariam o pato.

Foi algo tão sem vergonha que provocou um grito do Juca Kfoury, chamando a um deles de “canalha”, se me recordo bem. Solidário com a turma, embora sem nenhuma ligação com a política, Mayrink foi na frente e explicou:

- Pessoal, a capa desta semana é minha. Guardei na gaveta e tranquei. Se sair a greve, não entrego.

Essa lealdade para com o grupo, mesmo detestando política, marcou toda sua vida e da Maria do Carmo, sua mulher, grande figura.

Depois da saída de Mino, a revista entrou em uma fase barra-pesada. Julgava-se que havia uma dissidência interna, depois que a redação redigiu um abaixo assinado contra a manipulação de uma pesquisa feita em Brasília por Dalembert Jaccoud - outro grande jornalista, doce, firme e leal.

Esses períodos de intensa pressão são excelentes para revelar o caráter de cada um. Há os desleais, os assustados, os omissos, os radicais e os leais. Mayrink pertencia ao último grupo. Jamais radicalizou, jamais fraquejou, jamais cometeu uma deslealdade que fosse.

Passou seu período da Veja, entrou em outras experiências jornalísticas.

Depois, perdemos contato. A última vez que o vi foi dez anos atrás, em um jantar do pessoal da Veja dos anos 70.

Dia desses, encontrei o Humberto Werneck na padaria da rua Sergipe. Ficamos de combinar um encontro dos velhos amigos. Esse dia a dia maluco de São Paulo impediu saborear a última conversa com o Mayrink."


*Luis Nassif

quarta-feira, agosto 26, 2009

"Mandei um recado
Pro meu namorado
Nos classificados
De um grande jornal
Pedindo pra ele
Que um dia apareça
Antes que eu me esqueça
E melhore
O astral
Meu namorado é um sujeito ocupado
Não manda notícias
Nem dá um sinal..."

(Recado - Joanna)

quinta-feira, agosto 20, 2009

óculos

Colírio uma, duas, três, quatro vezes. Droga de pupilas se recusam a dilatar. Que bom, pensei, parece que são minhas, eu também tenho certa resistência à mudanças. Depois vieram os médicos, dois. Luzes vão, luzes vêm . Olhe para cá, agora para lá, para baixo, para a esquerda, seque as lágrimas, coloque o queixo aqui, acompanhe o meu dedo, fixe na minha orelha.
Droga! Não percebem que isso me deixa com vontade de chorar, de verdade, com sentimentos?
Você está um pouco mais cega, a sua retina é fina e pode descolar. Ah, é? Simples assim? E se cair, eu simplesmente ajunto? Atravesse a rua e faça mais exames. Puta merda, que dia claro! De onde saiu toda essa luz? Chega a doer. Um pouco de sala de espera com os olhos fechados. Não dá pra ler, dá vontade de vomitar. Mais uns exames, luzes, olhe para cá, olhe para lá, sua retina não vai cair. Ela tem manchas claras. Normal, como variações de tonalidades da pele.
Fui embora com aquela sensação de pena de mim mesma. Isso nunca mais tinha me incomodado. Deu vontade de quebrar os óculos, como quando eu era pequena, como se assim, num passe de mágica, eu pudesse enxergar o que nunca enxerguei. Por que as coisas são diferentes de como eu as vejo? Por que o mundo não podia ser simplesmente assim?

terça-feira, agosto 18, 2009

Um dia um amigo me pediu
Fran, escreve uns textinhos no teu blog
Por que eu não gosto de poesias
Tudo bem
O que eu escrevo não são poesias
São textinhos
Mal desenvolvidos por pura preguiça
Nossos pensamentos iam e vinham tão livremente
Que parecia mesmo que a gente estava pensando em voz alta
Durou até os primeiros raios de luz aparecerem
E você foi a voz da minha consciência
E me deu uns conselhos sobre o que eu deveria fazer com você

quinta-feira, agosto 06, 2009

Um dia, quando eu ainda era bem pequena, ele me disse para nunca usar drogas.
Ele não entendeu quando eu não quis voltar pra casa, nem por que eu gastava mais comendo em padarias do que comprando pão.
Sabe? É que eu acabei me viciando em estar sozinha, escrevendo em silêncio em casa à noite e, pela manhã, tomar café em confeitarias ao som de muitas colherinhas mexendo o açúcar.

terça-feira, agosto 04, 2009

"A dúvida é o preço da pureza
e é inútil ter certeza."
A pequeninha cresceu e agora às vezes eu a encontro caminhando pensativa pelas ruas centrais.
Sinto-me um pouco velha com minhas saias longas e minhas meias calças que embolam na perna.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Homeopatia

Voltei naquele consultório, pedacinho de passado que me faz lembrar o terceiro ano do ensino médio e o tempo em que eu não bebia muito, não falava palavrões, tinha o cabelo pela cintura e atendia aquele telefone da sala de espera. Volto lá a cada três meses para conversar com a médica que foi – e ainda é – como uma mãe pra mim. Mãe mesmo, com os defeitos e carinhos que toda mãe tem.

Nos 20 minutos que sempre duram mais do quem uma hora a atualizo sobre dores, coceiras, namoros, dúvidas, problemas de família. Uma amiga disse que isso parece com prostituição. Eu acho que não por que nunca envolveu sexo.

Ela normalmente toca no assunto Deus e eu gosto de ouvi-la sem falar. Eu a escuto com a seriedade com que leio um bom jornal, sempre com um certo senso crítico. Ela não sabe realmente o que eu penso sobre as coisas, mas é uma das pessoas que mais me conhece. Na sua testa está escrito “experiência” e, no fundo, acho que ela sabe todas as coisas que eu não falo. Ela sempre tem uma opinião sobre os meus namorados. Basta descrever duas ou três características e já vai logo dizendo: é este, não é este... Até agora ela só disse que não era este, e teve razão todas as vezes.

Ela pega no meu pé por eu não almoçar e coisas assim, mas no meio disso sempre há uma filosofia inesperada que vale à pena escrever. Outro dia falei sobre a solidão. Sobre ter família, amigos e preferir viver sempre exilada. Então ela me disse que todos éramos sós e não havia nada que pudesse ser feito a respeito. Disse que na hora em que caminhamos na rua ou que levantamos de uma festa para ir para casa, nesses momentos, descendo as escadas pensando no horário em que precisamos acordar no dia seguinte, nesses momentos estamos sós. Não há solução para o fato de apenas nós mesmos ouvirmos nossos pensamentos.

Já faz quatro meses e eu não tive mais nenhuma crise de solidão.