terça-feira, setembro 29, 2009

“Todos precisam ter alguém para conversar – disse a mulher. – Antes, tínhamos a religião e outras coisas sem sentido. Agora, cada um precisa ter com quem falar abertamente. Pois quanto mais bravura alguém tiver, mais solitário vai ficando.”

(Ernest Hemingway - Por quem os sinos dobram)

sábado, setembro 26, 2009

sexta-feira, setembro 25, 2009

Mamãe coragem

Para aquela moça que diz que eu nunca posto nada pra ela, essa música tão especial pra mim.

"Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu fui embora
Mamãe, mamãe não chore
Eu nunca mais vou voltar por ai
Mamãe, mamãe não chore

Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Veja as compras do mercado, pague as prestações
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos
Seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, mamãe seja feliz
Não chore nunca mais, não adianta
Eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho um jeito de quem não se espanta
Braço de ouro vale dez milhões
Eu tenho corações fora do peito

Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Leia Elzira morta virgem, O Grande Industrial
Eu por aqui vou indo muito bem
De vez em quando brinco carnaval
E vou vivendo assim felicidade na cidade
que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim, não tem mais fim."

~ Caetano Veloso e Torquato Neto ~
Há algumas coisas que eu nunca faço,
mesmo que me custem a felicidade.
Talvez eu ache que se as fizesse
minha felicidade seria um tanto plástica
E instável

Não sei, mas acho que cansei
É triste isso, dá vontade de chorar,
mas eu já vim até aqui
e vou desistir agora.

terça-feira, setembro 22, 2009

Dedicatória

No dia em que Minoru começou a me ditar a história de sua família, pediu-me que ela fosse dedicada a sua mãe, Timo. Eu queria dedicar meu trabalho a ele.
Por isso ficou assim: A Timo e Minoru.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Parece que a minha vida quer se tornar um poema. Juro que não faço força para isso, mas as evidências saltam aos meus olhos de manhã à noite. Começando pela nova amiga, a insônia e, depois, passando pela velha pasta preta onde guardo tudo sobre O livro. Hoje de manhã fui procurá-la na estante, afastei a grossa camada de pó e larguei-a em cima da cama. Agora ela está ali, olhando para mim com aquela cara, esperando que eu a abra e comece a trabalhar.

domingo, setembro 20, 2009

Ela não acredita no amor

Certo domingo minha família paterna estava reunida em uma comprida mesa comendo churrasco com maionese. Conversa vai, conversa vem, ela nos contou que havia assistido uma reportagem sobre o homem mais gordo do mundo que morava no México e havia estado no Guinness Book duas vezes. Por ser o mais gordo, com 500 quilos, e por ser o que mais conseguiu emagrecer, 200 quilos. Falou que ele tinha uma mulher bonita.

– O que faz uma mulher assim com um cara desses? – pergunta alguém.
– É só para fazer propaganda, responde ela.
– Propaganda de quê? Da banha dele?
– Não. Pra fazer marketing pra ela.
– Ah, tá.

(risadas)

Depois fui contar pra ela sobre um relacionamento conturbado que eu estava tendo (relacionamentos conturbados eu? Imagine...). Na segunda frase, talvez terceira, ela me interrompeu.

– Quer um conselho bem sincero meu? – perguntou ela.
– Quer que a gente seja sincero ou quer continuar sendo nossa amiga? – brincou meu irmão menor que andava por ali.
– Sério. Você quer um conselho? Vou te dar: larga ele.

(e ponto final)

O livro

Hoje o velho fantasma de um livro que tenho que escrever voltou a me ligar e, pela milésima vez, prometi a mim mesma que agora vou terminá-lo.
Acho que existem dois grandes motivos para eu nunca terminá-lo. Primeiro porque, lá no fundo, sei que a hora em que o der por acabado, terei nas mãos a pior coisa que já escrevi – sim, acho que ele está realmente ruim e pequeno. Segundo porque essa história de ser uma jovem, bebendo e tentando ser escritora, lembra-me muito Bokowski no prefácio de Pergunte ao Pó. Admito que gosto desse ar romântico da vagabundagem literária.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Não sei por que sinto essa necessidade louca de escrever
Minhas palavras escritas são as que pulsam na garganta
Querem ser gritadas
E hoje eu queria gritar obrigada
Pelas lágrimas de ontem, pelo sorriso de hoje, pela esperança de amanhã
Já sinto saudades

sábado, setembro 12, 2009

A festa

Nos cinco minutinhos em que fiquei sentada de longe observando, me senti confortável como se estivesse em casa. Eram meus irmãos. Velhos camaradas. Depois de quatro anos, conhecia todos, com seus defeitos e qualidades, e eles a mim.

Uma colega um pouco turista, que nos deixou nos primeiros períodos, perguntou sobre algumas meninas. Aí me dei conta de que nenhuma delas estava mais conosco. Quantos ficaram pelo caminho, pensei. Mas os essenciais, esses estavam todos ali, com dançinhas engraçadas, brindes ao sexo e brincadeiras infantis. Ah, as nossas infantilidades. Às levávamos muito a sério. Brincávamos de Adoletá nas aulas de fotografia, mas apenas no intervalo.

Éramos a família João Bolão, das conversas jogadas fora sob a árvore Jambolão no pátio do Ielusc. Fazíamos as melhores festas e as melhores discussões sociológicas. Fazíamos grupos de estudo nos sábados à tarde só para não perder o posto de a melhor turma de todos os tempos. E éramos felizes assim.

Caminhando as três quadras que separavam o local da festa de minha casa, me senti bem contente. Eu usava meu sobretudo branco de lã e meu tênis preferido. Na mão, carregava, batendo no chão como uma bengala, o meu mais novo guarda-chuva de flores cor-de-rosa. Na cabeça, vinha aquela música especial da Adriana Calcanhoto que durante tanto tempo me acompanhou. Também ela tocou por lá.

“Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu nem sei o nome
Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores...”

sexta-feira, setembro 11, 2009

Ele quase sempre demonstra ser bem durão
Não sabe lidar com os melodramatismos dela e sempre tenta fazer uma piada
Mas aí ela emudece e ele fica com medo de tê-la deixada braba
Então ele tenta confortá-la com considerações sérias
Aí ela ri
Eles passam pelas mesmas dúvidas da pré-adultescência
Só que ela fala
E ele encosta a cabeça no travesseiro ao seu lado e fica quietinho
Às vezes solta um “sei lá”
E isso basta para ela entender tudo que ele sente
Eles evitam dar nome ao relacionamento que têm
Com o nome viriam as regras
E nada mais teria graça
Eu lembrei dos dois ainda um pouco crianças ajudando na mudança de uma antiga colega
Lavando a louça do almoço e sentados no ponto de ônibus sozinhos e sujos
Lembrei que eles se conheciam há um tempão e que talvez tenha sido por isso que as coisas aconteceram tão naturalmente quando se viram
Ela pensa sobre quando ele for embora
E pensa que pode ser que ela vá antes
Mas ela tem o pressentimento de que nunca mais vão sair um da vida do outro
Por que a corrente que os une parece assim...
leve, invisível e muito forte

Lembranças

Lembrei deste conto da Clarice Lispector que uma amiga me apresentou. Lembrei de como eu parecia com a personagem durante uma fase da adolescência.


Felicidade Clandestina


Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um
livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Um dia ruim

Quando ela chegou em casa o estômago doía um pouco. Já havia relaxado do nervosismo de umas horas atrás, mas tinha a sensação de ter apanhado. Tinha na garganta o gosto levemente salgado das lágrimas choradas no banheiro. Não sabia por que ia ao banheiro chorar se a cara vermelha ficava denunciando o crime pelo resto do dia. Quando será que esta sensação de ser tão criança iria passar? Fazia coisas de bastante responsabilidade para a idade que tinha, mas a sensação de ser uma menina nunca passava. Sobretudo nos momentos em que ia chorar no banheiro.

Quando pequena teria enfiado a cara nos livros do Harry Potter e imaginado que um dia tudo mudaria num passe de mágicas. Hoje à noite, depois de alguns anos, deu-se conta de que não praticava mais aquelas fantasias de ser outra pessoa e estar em outro lugar. Será que isso significava que sua realidade estava mais fácil de ser suportada ou que finalmente havia se acostumado com ela? Será que significava que havia crescido?

Às vezes sente a própria vida como quem, de repente, sente os sapatos antes imperceptíveis, e fica procurando um sentido para morar onde mora, trabalhar onde trabalha e batalhar pelo que batalha. Pelo quê batalha? O quê é que tanto espera? Tem sempre a sensação de que algo bom a aguarda ali em frente e, de fato, as coisas têm se apresentado melhores com o passar do tempo, umas após outras. Mas de que serve tudo isso? Será que vai acabar uma velhinha comum cheia de experiências coerentes e bons conselhos para dar?

Nos últimos anos vem largando a família, devagar e sempre. Parece que andou lendo e conhecendo coisas sozinha por aí e esses companheiros naturais passaram a não ter nada em comum, além da história. Ela sabe que isso não é pouco, mas acaba dedicando a essa compreensão apenas um almoço por semana, aos domingos. Os grandes amigos da faculdade também têm escapado por entre os dedos. Já não faz mais sentido chamar o velho colega para tomar um café quando se sente triste. Seus assuntos já ficaram tão desatualizados... E as fotos no Orkut agora mostram mundos e amigos diferentes. Com o passar do tempo, cada um vai se especializando cada vez mais em si mesmo.

Pode ser que ela compre mais sapatos – é incrível como eles nunca são o bastante.
Pode ser que vá embora com alguém.
Pode ser que vá embora sozinha.
Pode ser que ela queira mesmo é morar num sítio, plantar maconha, criar galinhas e ouvir Raul o dia inteiro.

Mas, em princípio, ela vai dormir, por que tem nas pálpebras aquele peso da angústia. Não queria dormir assim. Amanhã vai acordar triste e quieta. Depois vai nadar.

Réu confessa

Que a verdade seja dita: o título da matéria abaixo é de autoria do jornalista Leonel Camasão. Eu roubei.

terça-feira, setembro 08, 2009

Censura também se aprende na escola

Sem decorações verdes

O curso de Comunicação Social não será incorporado à Univille. Assim abro a matéria que desde o começo tinha como intenção informar os acadêmicos sobre os novos passos da parceria entre Bom Jesus/Ielusc e Univille. Infelizmente percebi uma incoerência nas entrevistas do reitor Paulo Ivo Koehntopp e do diretor Tito Lívio Lermen. Suspeitando dessa falha de comunicação interna, a coordenação da Revi decidiu, como procedimento padrão da profissão, checar a veracidade das informações apresentadas pelo reitor. Infelizmente foi confirmada a falha de comunicação interna da reitoria e, para não expor o descuido da universidade, o diretor Tito Lermen e o reitor Paulo Ivo resolveram não aceitar a publicação dessa matéria na revista eletrônica. Acho importante repassar os dados das entrevistas, até mesmo porque não há nenhuma informação prejudicial às instituições. Em nenhum momento pretendi ludibriar os estudantes, segue então a matéria original com os dados até então apurados.

Bom Jesus/Ielusc e Univille criam atividades em conjunto

Durante o primeiro semestre de 2009 uma série de especulações sobre a parceria entre Bom Jesus/Ielusc e Univille ganharam consistência nos corredores dessas instituições. Embora a coordenação do curso de comunicação social sempre tenha colaborado com sugestões e documentos, os primeiros debates sobre o assunto aconteceram em “reuniões de cúpula”, explicou o atual coordenador de jornalismo Silvio Melatti. Esse excesso de precaução da alta gestão formada pelo reitor Paulo Ivo Koehntopp da Univille e o diretor Tito Lívio Lermen do Ielusc gerou, para professores e alunos, dúvidas sobre o futuro do curso de Comunicação Social e, claro, sobre as reais intenções dessa possível união. No dia 13 de agosto, porém, uma nova reunião foi realizada com a presença de uma comissão de professores do Ielusc e de um grupo de profissionais da Univille. Foram debatidas novas estratégias para o projeto, mas essas mudanças não foram repassadas ao reitor Paulo Ivo.

Assim como era no princípio...

A parceria segue um termo de contribuição que foi assinado em 19 de setembro de 2008. As instituições estabeleceram que toda nova atividade ou ação desse convênio deve ser elaborada através de processos aditivos e contratos de comodatos. Na visão do diretor geral, Tito Lívio Lermen, o curso de Comunicação Social foi escolhido para fazer a parceria “caminhar rapidamente”. O pastor afirmou que no início a intenção era realmente dividir a gestão do curso, mas nesse momento ele se sentiu “um pouco inseguro”. De acordo com o diretor, as diferentes práticas e culturas de ensino fizeram com que as negociações começassem novamente. Antes de concluir a parceria e dividir a gestão, notou-se a necessidade de avaliar e planejar o assunto de forma mais consistente. Foram discutidas, então, as questões financeiras, técnicas e trabalhistas dessa possível união. Entre outros processos legais, os órgãos normativos da educação do país não permitem simplesmente unir as faculdades, explicou o pastor.


Palpável


A primeira ação conjunta foi o vestibular de 2009 e o primeiro termo aditivo foi produzido no dia 10 de fevereiro de 2009. De acordo com o termo, as faculdades passaram a compartilhar o acervo de suas bibliotecas. Foi estabelecido que cada instituição poderia emprestar até dez livros da outra. O sistema está funcionando desde fevereiro. A disponibilidade do material é verificada através dos sites das respectivas bibliotecas. O material é entregue por um motoboy e as normas de devolução são as mesmas para os acadêmicos de ambas as instituições. Apesar de a iniciativa estar funcionando, ainda não é possível um estudante do Bom Jesus, por exemplo, solicitar diretamente um material na biblioteca universitária. A negociação está sobre responsabilidade exclusiva das bibliotecárias Maria da Luz Machado (Ielusc) e Karyn Munik Lehmkuhl (Univille). Segundo Maria, já foi cogitado em reuniões com a direção essa possibilidade, mas por enquanto isso não é possível, pois existem diferenças entre as estruturas das faculdades, como nos sistemas de informática utilizados. A bibliotecária também ressaltou que essa mudança ainda não é necessária, pois, a demanda de empréstimo não ultrapassa o limite de dez livros determinado pelo termo aditivo.

Os boatos e as iniciativas

Na primeira reunião do conselho de professores, que ocorreu na primeira semana das férias de julho, os professores souberam que o próximo vestibular para o curso de comunicação social já seria feito com a gestão dividida entre Bom Jesus/Ielusc e Univille. Sem informações concretas e com dúvidas, os professores do Bom Jesus resolveram se articular. Sônia Regina de Oliveira coordenadora de Publicidade e Propaganda comentou ter ouvido que na Univille já se discutia o setor onde o curso de comunicação seria instalado. A coordenadora afirmou que a intenção do corpo docente é garantir um projeto político-pedagógico de qualidade. Uma simples incorporação não asseguraria esses valores. Para ela, além de possuírem dimensões diferentes, as duas instituições usufruem de culturas organizacionais incompatíveis.

Preocupados com a manutenção do curso, uma comissão formada pelos professores e coordenadores do Ielusc se uniu para elaborar sugestões que permeiam essa parceria. Gleber Pieniz, Juliana Bonfante, Luis Fernando Assunção, Maria Elisa Máximo, Sílvio Luiz Melatti e Sônia Regina redigiram um documento com sugestões para auxiliar o diálogo entre as duas instituições. Entre as reivindicações desses professores, estava pautada a necessidade da Univille formar um grupo com os mesmos moldes para interagirem no debate. Foi sugerida a criação de novos cursos, como de pós-graduação e, também, mudanças no compartilhamento das bibliotecas, visando à possibilidade de alunos e professores transitarem nesses locais e utilizarem livremente seus materiais.

A comissão pretendia explorar a possibilidade de, através da parceria, manter dois cursos de comunicação social. Um no período matutino, de responsabilidade da Univille e, outro, que continuaria sob gestão do Ielusc. Os laboratórios do Bom Jesus seriam utilizados pelos acadêmicos da Univille, já que a universidade não possui uma infra-estrutura especializada em comunicação. Silvio Melatti, coordenador do curso de Jornalismo, compreende que essa seria uma boa medida para ambas as instituições. A utilização dos laboratórios do Ielusc, “estrutura ociosa durante o dia”, comentou Silvio, e a edição da revista Rastros com o selo da Univille são exemplos de atitudes que, segundo Melatti, favoreceriam as duas entidades. O coordenador salientou que o Ielusc possui um histórico de ex-acadêmicos bem empregos no mercado e um conceito de qualidade reconhecido pelo Mec. A partir desses fatores, a comissão reconheceu que não haveria como aceitar uma incorporação sem debater os temas sugeridos.

Na última reunião das férias, porém, o pastor Tito informou que a reitoria da Univille admitiu não haver mercado para dois cursos de comunicação na cidade. Sendo assim, o clima de boatos esfriou. Outro fato observado por Silvio Melatti é que, até então, nem a Puc (Pontifícia Universidade Católica) e nem a Anhanguera se manifestaram realmente no que diz respeito a abrir novos curso de comunicação em Joinville. “Geralmente quando um curso se instala em uma cidade menor, os professores dessa área são sondados, e até agora não recebemos nenhuma informação sobre isso”, reconheceu. As propostas elaboradas pelos professores do Ielusc e enviadas ao Pastor Tito, seriam, mais tarde, discutidas na reunião do dia 13 de agosto. Nesse novo debate estavam presentes, além da comissão do Bom Jesus, a pró-reitora Ilanil Coelho, o professor Alexandre Cidral, a coordenadora de vestibular Silvia Matos e o gerente de Marketing Silvio Simon, todos funcionários da Univille.

De acordo com Maria Elisa Máximo, o plano de ações elaborado pelos professores perdeu um pouco de sentido visto que, a Univille não pretende abrir um curso próprio de comunicação social. A professora explicou que a primeira prerrogativa da comissão ielusquiana foi incentivar a universidade a compor um grupo de professores para debater o tema, no entanto, as pessoas que formam essa outra comissão estão ligadas aos departamentos administrativos da Univille. Maria Elisa reconhece que, nessa última reunião do dia 13 de agosto, pela primeira vez, os professores tiveram contato direto com as propostas da reitoria, até então, todas as informações recebidas haviam sido mediadas, de alguma forma, pela hierarquia da instituição luterana.

Sobre o dia 13 de agosto

A ideia de dividir a gestão do curso de comunicação nem foi cogitada na reunião, explicou a professora Maria Elisa. De acordo com as sugestões enviadas pelo Bom Jesus, as comissões estabeleceram novas metas como imprimir a revista Rastros na Univille, criar cursos de extensão, elaborar pesquisas acadêmicas e produzir revistas com artigos produzidos pelos estudantes. Também foi cogitada a elaboração de um curso superior de Relações Públicas dentro da área de comunicação social. Mas o objetivo mais discutido tratou da criação de uma emissora de rádio e TV. Esse projeto contaria com os direitos de concessão da universidade e a atuação técnica dos profissionais e acadêmicos do Ielusc.

De acordo com o professor e coordenador do núcleo de pesquisas do Bom Jesus, Leandro Otto Hofstätter, a intenção é futuramente produzir uma programação para rádio e TV na Web. Obtendo assim, um know how para suprir a demanda de conteúdo após a concessão. Para ele, está na hora das duas faculdades, com “perfil comunitário”, desfrutarem desses direitos e, para isso, Leandro comenta que Tito e Paulo Ivo já estão entrando em contato com o prefeito Carlito Merss e a senadora Ideli Salvatti. “Nesses assuntos de concessão é preciso ter calibre político”, reconheceu. Esse processo de instalar a rádio e TV na Web ainda continua no campo da análise, pois, depende da atualização dos laboratórios e de um estudo de custos, já que a instituição precisará de bolsistas e professores. Ou seja, sobre a parceria, de concreto mesmo, sabe-se que as bibliotecas continuarão compartilhando livros através de um motoboy e que, pelo menos em 2010 o Bom Jesus não receberá nenhuma decoração verde.

O mal entendido

Embora diretor e reitor parecessem não falar a mesma língua, as instituições seguirão com as novas atividades e não dividirão a gestão do curso.

No dia 14 de agosto o pastor disse à Revista Eletrônica que o ensino superior no Brasil vive um momento em que é necessário fazer parcerias para investir na educação sem deixar uma marca se tornar superior à outra. O pastor concluiu que esses debates são lentos, pois começam na alta gestão (reitores e diretores) e depois precisam passar pela “estrutura de ensino”, como coordenações e corpo docente. Nesse momento surgiram ruídos que, fizeram o cacique do Bom Jesus puxar o barco e reiniciar o debate. De acordo com o pastor, nesse novo contexto de metas, foi cogitada inclusive, a possibilidade de se criar um curso de Tecnólogo em Oftálmica, unindo o núcleo de enfermagem do Ielusc e o de medicina da Univille. Foi falado também, sobre a inauguração de uma unidade de ensino médio do Bom Jesus no campus da Univille de São Francisco do Sul. Para isso, revelou Tito, as direções já tomaram algumas providências como conversar com a prefeitura da cidade.

Tendo em vista as novas propostas, foi descartada a divisão do curso de comunicação pelo pastor. Só faltou os responsáveis da Univille informarem o reitor Paulo Ivo. Sem saber das novas prioridades, Paulo Ivo cedeu uma entrevista no dia 25 de agosto à Revi, onde expôs suas antigas propostas.

Paulo Ivo Koehntopp apresentou um discurso contrário ao do pastor luterano, lembrando que faltava somente decidir a “existência física” do curso, o que considerou apenas um “detalhe”. “Transferir todos os cursos de uma só vez seria uma pancada”, disse o reitor, “por isso escolhemos como projeto piloto os cursos de Jornalismo e Publicidade”. Paulo Ivo explicou que Univille e Ielusc têm características particulares de gestão e isso seria debatido pelos professores de ambas as instituições, mas “o que tinha que ser discutido pela direção já foi discutido”. O reitor comentou que a Univille tem a possibilidade de criar e absorver cursos como os do Ielusc, mas com a parceria as instituições poderiam economizar esforços e recursos, ampliando suas áreas de abrangência. O curso de Comunicação Social, continuou Paulo Ivo, poderia ser transferido totalmente para o campus universitário, assim como a unidade do Bom Jesus Centro poderia passar a ser administrada pela Univille. Os planos do reitor eram de metas de curto prazo e uma delas dizia respeito ao vestibular de 2010, quando já se pretenderia oferecer o curso de Comunicação sob gestão da Univille: “essa é a vontade do Paulo Ivo”, concluiu, falando em terceira pessoa.

De acordo com Paulo Ivo (desatualizado) depois da transferência do curso de Comunicação, a pretensão da parceria era de passar a gestão de todos os cursos superiores do Bom Jesus para a Univille em 2011. Sobre o corpo docente, o reitor salientou que já havia professores dando aulas nas duas instituições e que talvez o único problema fosse o salário: a base de remuneração na Univille é um pouco menor, embora o número de benefícios seja maior – o que, na avaliação do reitor, atingiria os mesmos patamares de vencimento pagos pelo Ielusc. Desta maneira, além dos cursos, os professores também seriam remanejados para a universidade.


Marcus Vinícius Carvalheiro
Estudante do 4º semestre de Jornalismo e integrante do Diretório Acadêmico Cruz e Sousa (Dacs)