domingo, agosto 01, 2010

Sede

Fazia frio e chovia. Era domingo à tarde, ela estava sozinha como há muito não ficava. Havia um misto de prazer e saudades no ar. Saudosismo e melancolia. Ela procurava escrever palavras soltas, observando de vez em quando os carros na rua, através da janela molhada, só para aumentar a sensação chuvosa e solitária.

Reviu todas as fotos antigas. Lembrou de brilhos de gloss, do tempo em que conseguia conversar longamente com os amigos antes de brigar, de bares gays, da liberdade exacerbada, da sinuca, da caneta segurando o coque dos cabelos compridos, da sensação estonteante do álcool, das lágrimas escondidas atrás de sorrisos, do gosto do choro engolido com cerveja, do suor da dança, dos filmes, do sexo por pura teimosia, da paixão nunca resolvida, conformada, renegada e transformada em algo como um carinho muito grande.

Não era saudade, não era desejo de reviver aquelas noites, era sede de poesia, sede de gritar, algo que ela mantinha preso em um alçapão em que colocava o peso do corpo para não deixar fugir.

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