segunda-feira, maio 26, 2008

Amores são como livros

Amores são como livros. Uns maiores, outros menores; alguns profundos, outros mais superficiais. Há aqueles que lemos quando pequenos logo que aprendemos a ler e que nos acompanham por toda a vida; há os que lemos há muito tempo e reencontramos inusitadamente, acompanhados de uma avalanche de lembranças. Algumas pessoas encontram livros perfeitos, livros feitos para elas. Em minha estante cada livro possui seu lugar definido, especial... Às vezes me pego em frente a eles, percorrendo com os olhos seus títulos, lembrando suas histórias, analisando o que cada um me ensinou, me trouxe de novo. Houve os que me obriguei a ler, apenas para não me sentir derrotada; houve os que devorei; os de páginas perfumadas; os simples, porém profundos; há os de cabeceira; os engraçados; os que me fizeram chorar; os retóricos; os demagógicos; os ideológicos; houve os que li ao mesmo tempo; os que duraram apenas uma madrugada; e houve a Bíblia.
Há pessoas que nunca aprenderam a ler, não conheceram outros mundos, outras formas de pensar, não ousaram. Conheço algumas que afirmam não precisar, dizem viver bem, dizem que bastam as orelhas de um livro ou outro. Pode ser que elas sejam felizes a maneira delas. Eu não conseguiria viver assim. Quero ler livros em todos os idiomas, com páginas de todas as cores, de vários autores, tempos, contextos; quero fotos coloridas e em preto e branco, livros de artes, música, política e cinema; quero livros que me façam imaginar as coisas mais inimagináveis e confrontar meus próprios eus, muitas vezes, infinitas vezes. Quero livros, todos os livros do mundo!

A partida

Hoje nós temos que aproveitar a noite, meu amor. Não me deixe partir porque eu não pretendo voltar. Não tão cedo. Quando o dia clarear vou embora para uma cidade bem longe e grande. Não, não pense que não vou voltar por não haver meios; talvez você não entenda, nem lhe peço isso, eu apenas não vou querer voltar. Conhecerei pessoas novas, vou me apaixonar mais uma vez – e mais outra, e mais outra...
A saudade que sentirei de ti e de tudo o que há por aqui provavelmente deixará meu coração apertado às vezes. Não é que eu não vá ter vontade, mas tão cedo eu não vou querer voltar. Não me peça para explicar mais, é um pressentimento e eu não costumo errar.
Então não me deixe ir embora hoje. Vamos a qualquer lugar. Conte-me de você, escute com paciência os meus infinitos e estridentes argumentos. Depois sorria para mim. Faça com que eu tenha vontade de me esconder atrás de você e me diga alguma coisa que me faça olhar-te com olhos esbugalhados de admiração.
Ande bem devagar ao meu lado. Vamos fingir que essa é a velocidade normal. Vamos prolongar cada passo, cada segundo. Porque amanhã eu vou embora. Não poderei levar tudo que tenho. É certo que não são muitas coisas, mas não vou conseguir carregá-las. Só vou levar o que gosto mais, com excessão de você, porque eu não quero que você vá – e nem você vai querer ir. Sei que todos os objetos que amo e que me são tão caros vão acabar cada qual na casa de alguém indiferente – e desimportante. E um dia eu vou descobrir que aquele livro maravilhoso tem então um bode, versão desenho de criança, desenhado na contracapa, cheio de pó no fundo da estante de uma casa qualquer.
Por esse tempo você vai achar que me esqueceu. Mas um dia, depois de muitos anos, eu vou voltar. Alguém vai morrer e eu vou ter que voltar. E então eu vou te fazer lembrar daqueles dias e de como nós conseguíamos andar devagar; vivíamos em um balão colorido, flutuando pelo céu, a mil por hora. Você vai, não sem antes hesitar, perguntar-me por que nunca voltei. Vai perguntar por que eu te deixei envelhecer. E eu vou responder que não sei. O fato é que nunca voltei.
Eu não voltarei, meu amor. Amanhã vou embora para uma cidade bem grande. Que fica muito longe.

domingo, maio 25, 2008

Agora vou ali e não volto. Como já não voltei, outras vezes. Se você vai sentir saudades não sei. Não importa. Novamente seremos eu, meu suco de uva e meu prato de macarrão nos almoços de domingo que nunca se cansam de retornar. Sempre eles, os domingos. Mas tudo bem. Vou ali e não volto. É necessário. Não sei de ti. É necessário pra mim. Tenho uma estante cheia de livros e muitas pessoas que às vezes me amam pra me consolar. Vou ali e não volto. Obrigada e não esqueça de escovar os dentes antes de dormir.

sexta-feira, maio 23, 2008

Os namorados

Eles eram meus amigos nos tempos da faculdade. Ainda estou na faculdade, mas escrevo assim para parecer mais clássico um dia, na posteridade. Envergonho-me daqueles primeiros anos em que eu pensava muitas coisas idiotas. Por isso parei de escrever diários, eles só servem para nos fazer sentir ridículos pelo que pensávamos. Naqueles anos eu não os via com bons olhos. Ela, pelo ciúme que eu tinha - mas essa é uma outra história -; ele, por não conhecer direito, achá-lo tolo, sem conteúdo. Naquele tempo eu tinha coisas mais importantes para ocupar a mente, preocupava-me com o mundo e não percebia nada em volta. Um dia eles começaram a namorar e eu não entendi. Me passou uma impressão de libertação. Ela parecia feliz e ele também pareceu mudar. Gostavam-se de verdade. Acho que pouca gente apostou nesse relacionamento, mas dia após dia, mês após mês, aquele namoro foi durando. E como ela mudou ele... Não sei porque, mas eu sempre ficava imaginando que ele tirou-a da solidão. E quando eu observava os dois, pensava neles num domingo a tarde, juntos preparando um bolo de chocolate. Nessa época já éramos amigos e eu gostava dos dois. Um dia eles terminaram. Não sei porquê, acho que ninguém ou pouca gente sabe. Um dia ele me disse que doía falar disso e eu pensei que não tinha mesmo nada que saber. O curioso é que não havia motivos para eu escrever essa história. Escrevi porque acho que, para eles, a história foi importante. E terminaram, acabou. Então escrevi, para essas lembranças não sumirem nunca.
"Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi."

~Caio Fernando Abreu~

sexta-feira, maio 16, 2008

cinzento e encarnado
verde e negro
roxo e branco
ocre e rosa
amarelo e bonina
verde e ouro
vermelho e prata
ouro e azul
encarnado e amarelo
verde e ocre
alranjado e verde
azul e amarelo
ocre e ouro
azul e encarnado
cinzento e todas as cores
vermelho e branco
azul sem fim

~maria valéria resende~

terça-feira, maio 13, 2008

Cada vez mais parece que todos os dias são segundas-feiras... E quando se vê falta pouco mais de um mês para se completar vinte anos. Parece ridículo sentir-se velho com apenas duas décadas de chegada ao mundo. É mais uma tristeza por saber que se tem quase vinte anos a menos de vida. Mas não é bem uma tristeza, é mais uma sensação de não ter chão, não ter porto. Só muitas incertezas, tudo tem parecido cada vez mais incerto. Só as perguntas surgem. Quanto mais respostas procuro, tanto mais perguntas acho. E um dia qualquer me contam que morreu um garoto jovem, por um motivo banal. Coitado, morreu como eu, na fase das não respostas. Morreu flutuando, sem chão. Eu nem o conhecia, fiquei triste porque compactuo com a convenção social de que é triste alguém morrer. No mesmo dia se recebe a notícia de que nasceu uma garotinha. Coloriu um pouco o cinza dos meus sentimentos. Não apenas pela convenção de se ficar feliz com o nascimento de alguém. Ontem nasceu um infinito de possibilidades.