segunda-feira, fevereiro 27, 2012

O canalha


Hoje tinha um senhor de uns sessenta e tantos anos na minha frente, na fila do buffet. Ele tremia um pouco e deixou cair um pedaço de beterraba. Pensei nos trejeitos de quem recém começou a envelhecer e ainda não lida bem com a situação. Comparei com o personagem do livro que estou lendo, um homem um pouco frustrado, em vésperas de se aposentar. Perguntei-me sobre como deve ser difícil envelhecer, sobre a baixa auto-estima de ver-se debilitando... Ao chegar à mesa comentei com um amigo, que compartilhou a história de seu avô, hoje com 80 anos. Nós dois estávamos ali comendo pensativos quando um terceiro colega se intrometeu lembrando que a expectativa de vida cresceu e que os canalhas também envelhecem.

Acabou com todo o romantismo e ainda lançou uma dúvida afirmando que é muito difícil identificar a verdadeira índole dos velhinhos.

À noite compartilhei minhas indagações com outro amigo, que me lembrou: “Todo canalha é magro”. Obrigada, Nelson Rodrigues. Salvastes meu dia. 

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Difícil

A primeira vez você faz com ingenuidade
Uma hora a ingenuidade quebra, por causa do encontrão que a cara dá com a parede
Depois você descobre que é tudo uma ilusão
Resolve que nunca mais vai querer isso pra vida
Mais tarde sente um pouco de saudades
Acha que até vale a pena se iludir um pouco
E sai por aí procurando alguém por quem valha à pena se iludir
E nesse momento o meu raciocínio para:
Taí uma coisa difícil, alguém por quem valha à pena se iludir.

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Muito tempo depois...

Agora sim, 
finalmente, 
acho que já fez muito tempo, 
acho que não lembro mais, 
acho que vou sobreviver. 

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

E não volte...

Pegue o seu deus, o seu diabo, o seu coletivo de preconceitos, mesquinharias e hipocrisia e vá para o inferno.

Vivamos!

Algumas pessoas que eu amo muito estão tristes, por isso estou também. Eu queria tirar a dor delas com as minhas mãos, ou pelo menos fazê-las sorrir. Mas na falta dessa capacidade, peço que lembrem que temos uns aos outros. Não há nada nesse mundo pelo que valha a pena morrer. Há, sim, dois bons motivos para continuarmos vivos: as pessoas e a causa que amamos...

Continuemos...

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Sobre os registros e a memória

Tenho me cobrado um post, um relato, uma frase qualquer para registrar por aqui o quão bonita foi nossa viagem ao Uruguai e à Argentina. Mas lembrei de um texto do Eduardo Galeano, filho de uma das belas cidades que conhecemos, que justifica em muito eu não escrever mais do que apenas isso. Já coloquei esse texto no blog há um tempo, mas a ocasião justifica fazê-lo novamente:

“Quando me separei de Graziela deixei a casa em Montevidéu intacta. Ficaram os caracóis de Cuba e as espadas da China, os tapetes da Guatemala, os discos e os livros e tudo. Levar alguma coisa teria sido um roubo. Tudo isso era dela, tempo compartido, tempo que agradeço; e me larguei no caminho, rumo ao não sabido, limpo e sem carga.

A memória me guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo.

Febre de meus adentros: as cidades e as gentes, soltas da memória, navegam para mim: terra onde nasci, filhos que fiz, homens e mulheres que me aumentaram a alma.”

Eduardo Galeano ~ Dias e noites de amor e de guerra




Quantas vidas?

Quando você dedica sua vida a distrair os pensamentos, ainda está vivendo pelo pensamento em questão. Tenho pensado nisto, há dois anos, sem falhar um dia.