quinta-feira, janeiro 18, 2007

Da Imagem (não) Registrada

A tarefa dos alunos da turma de jornalismo João Bolão nestas férias é produzir um blog com belas fotos de autoria própria. Idéia do professor de fotografia, inspirado, claro, pelos caprichos seus de cada lua.
Eu diria que é a Lei de Murphy. Passou-se já um mês e meio das férias e, até hoje, nenhuma boa imagem havia se apresentando a mim. Neste momento minha máquina fotográfica, que estava comigo até ontem, está empreendendo uma grande aventura, rumo a Minas Gerais, acompanhando minha irmã. Vão ficar por lá uns quatorze dias. E neste momento, na janela do meu quarto, surge a imagem perfeita.
Isto me causa uma grande chateação. Que desperdício de coisas bonitas se não tenho com quem compartilhá-las. Vem então a grande idéia, porque não as descrever?

A chuva que caía forte há dois minutos, agora pinga levemente na minha folha. Ela parece ter limpado o ar, está mais fácil e mais gostoso respirar agora.
O campinho de futebol está ensopado, há poças por ele todo. Está de um verde bem alegre, o gramado faz cara de quem gosta.
O parque me dá a impressão de estar dentro de um rio cor de areia molhada. O vermelho, o amarelo e o azul do escorregador e da gangorra estão até convidativos. Quem sabe logo eu não vou lá, mergulhar no rio de areia?
A quadra de vôlei virou um espelho, reflete o céu. Se este céu, quando refletido no concreto molhado, já é lindo, que direi de sua cor real? É de um azul tão puro... Faz lembrar-me da infância e da veneração que minha mãe, mulher de muitas fés, tinha por Nossa Sra. Auxiliadora. Este céu tem a cor do manto na imagem dela, e me traz uma lembrança carinhosa. Não religiosa, poética.

As nuvens que preenchem parte deste imenso azul, embora devessem ser cinzas pela quantidade de água que despenderam há poucos instantes, são brancas como poucas coisas no mundo realmente conseguem ser. Elas se sobrepõem umas às outras formando bonitos desenhos. Rentes aos meus olhos que espiam cá, da janela do quarto andar, posso jurar-lhes, pairam no céu duas enormes bolas de sorvete. São de creme coberto com fios de ouro que foram concedidos pelo sol que, a esta hora, se esconde em algum lugar atrás daquela montanha.
Se eu não estivesse com uma mão manobrando a lapiseira e com a outra segurando o caderno, tenho certeza de que, com pouco esforço, alcançaria o delicioso sorvete de creme com raios de sol.

... Passaram-se dez minutos desde o registro da última palavra, o suficiente para o azul do céu passar de anil para sombrio. As luzes alaranjadas do pedacinho de cidade que vejo daqui se acenderam. As bolas de sorvete sumiram, e eu já não vejo mais o parque.
Quem toma conta da imagem agora são os relâmpagos. Incrível, nunca os vi se comportarem assim. Dançam atrás das nuvens como uma sucessão de fogos de artifício alvos.

Não sei se fui capaz de transmitir com palavras, por natureza falhas, a beleza do entardecer de hoje. Nem quero nota por isso. Já me recompensa o alívio. O meu encantamento era muito grande para ser egoisticamente afogado dentro de mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu viiiiii, tava lindo mesmo!
Eu tirei uma foto =P huahuahuhua
Depois eu tentei tirar dos raios, mas... são muito rápidos xD huahuahuauha
Mas acho ki se vc tivesse tirado uma foto, num seria tão linda quanto esse texto!
Adorei *_*