sábado, setembro 12, 2009

A festa

Nos cinco minutinhos em que fiquei sentada de longe observando, me senti confortável como se estivesse em casa. Eram meus irmãos. Velhos camaradas. Depois de quatro anos, conhecia todos, com seus defeitos e qualidades, e eles a mim.

Uma colega um pouco turista, que nos deixou nos primeiros períodos, perguntou sobre algumas meninas. Aí me dei conta de que nenhuma delas estava mais conosco. Quantos ficaram pelo caminho, pensei. Mas os essenciais, esses estavam todos ali, com dançinhas engraçadas, brindes ao sexo e brincadeiras infantis. Ah, as nossas infantilidades. Às levávamos muito a sério. Brincávamos de Adoletá nas aulas de fotografia, mas apenas no intervalo.

Éramos a família João Bolão, das conversas jogadas fora sob a árvore Jambolão no pátio do Ielusc. Fazíamos as melhores festas e as melhores discussões sociológicas. Fazíamos grupos de estudo nos sábados à tarde só para não perder o posto de a melhor turma de todos os tempos. E éramos felizes assim.

Caminhando as três quadras que separavam o local da festa de minha casa, me senti bem contente. Eu usava meu sobretudo branco de lã e meu tênis preferido. Na mão, carregava, batendo no chão como uma bengala, o meu mais novo guarda-chuva de flores cor-de-rosa. Na cabeça, vinha aquela música especial da Adriana Calcanhoto que durante tanto tempo me acompanhou. Também ela tocou por lá.

“Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu nem sei o nome
Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores...”