sexta-feira, agosto 28, 2009

Momento de rabugisse da autora

Será que se eu simplesmente levantasse e fosse para a praia eu morreria de fome? Será que mandariam a polícia atrás de mim? Bom, eu sou uma pessoa honesta, pago meus impostos e só às vezes me envolvo em agitações. Mesmo assim a polícia costuma me achar sentada nas praças por aí. E eu nem sou do tipo sem classe que fica bebendo vinho barato. Sou do tipo que uso uma boininha verde e senta com muita delicadeza no balanço. Não se pode mais ter uma noite poética nesta cidade?

E se eu simplesmente me negasse a fazer um lead outra vez? Será que agarrariam meus braços e obrigariam meus dedos a digitar novamente? Acho que o difícil seria intervirem no meu cérebro, já que, mesmo que não pareça, é preciso ter um para escrever qualquer coisa que seja. Mas provavelmente eu morreria de fome. Hoje, depois do almoço, pensava enquanto andava solitária na rua: não é que eu goste muito do que faço, mas é que essa é a única coisa que eu queria fazer. Além, é claro, de inventar um novo estilo literário e ganhar o Nobel de literatura – mas isso é para daqui há muito tempo, quando a minha maturidade me fizer superar a preguiça de continuar projetos após os primeiros obstáculos.

E se eu fosse visitar os meus avós? Não, não. Minha avó me diria: garota, você não vem mais aqui. Prefiro continuar não indo a ouvir. E o final do meu curso? Será que eles não percebem que eu não vou mais aprender nada de novo naquele lugar? Daqui pra frente é inevitável que eu apenas enrole. Devia haver uma forma de avaliação assim: cansou? Então toma o teu diploma e vai se virar.

Por que as pessoas gostam de ler pornografias no banheiro? Na casa onde moro há um livro do Dalton Trevisan ao lado do vaso sanitário que faz muito sucesso. Eu já sabia, mas hoje sistematizei na minha cabeça o motivo pelo qual minhas histórias nunca são totalmente fictícias. Não sei colocar nomes nas minhas personagens. Nunca ficam reais o suficiente. Mas eu sei inventar histórias para personagens verdadeiras – ah, não me venham com hipocrisias. Todo mundo já inventou histórias num momento de desespero, em uma aula de redação jornalística. Não? Desculpe, eu sim. E foram as melhores coisas quase reais que eu já produzi.

Queria ter uma vida meio Sex and the City, mas não gosto da Vogue, não consigo me apaixonar tanto por sapatos e tenho pouquíssimas amigas meninas. As mulheres são, na maioria das vezes, chatas, frescas e não morrem nunca. Se morressem, ao menos eu escreveria algo bem bonito sobre elas.

Um comentário:

Carvalho disse...

Cu!
(Com ponto de exclamação é interjeição não é?)