quinta-feira, agosto 20, 2009

óculos

Colírio uma, duas, três, quatro vezes. Droga de pupilas se recusam a dilatar. Que bom, pensei, parece que são minhas, eu também tenho certa resistência à mudanças. Depois vieram os médicos, dois. Luzes vão, luzes vêm . Olhe para cá, agora para lá, para baixo, para a esquerda, seque as lágrimas, coloque o queixo aqui, acompanhe o meu dedo, fixe na minha orelha.
Droga! Não percebem que isso me deixa com vontade de chorar, de verdade, com sentimentos?
Você está um pouco mais cega, a sua retina é fina e pode descolar. Ah, é? Simples assim? E se cair, eu simplesmente ajunto? Atravesse a rua e faça mais exames. Puta merda, que dia claro! De onde saiu toda essa luz? Chega a doer. Um pouco de sala de espera com os olhos fechados. Não dá pra ler, dá vontade de vomitar. Mais uns exames, luzes, olhe para cá, olhe para lá, sua retina não vai cair. Ela tem manchas claras. Normal, como variações de tonalidades da pele.
Fui embora com aquela sensação de pena de mim mesma. Isso nunca mais tinha me incomodado. Deu vontade de quebrar os óculos, como quando eu era pequena, como se assim, num passe de mágica, eu pudesse enxergar o que nunca enxerguei. Por que as coisas são diferentes de como eu as vejo? Por que o mundo não podia ser simplesmente assim?

Um comentário:

Alexandre Perger disse...

É bom ver um mundo novo na nossa cabeça, ele é perfeito.

Te amoo!