segunda-feira, agosto 03, 2009

Homeopatia

Voltei naquele consultório, pedacinho de passado que me faz lembrar o terceiro ano do ensino médio e o tempo em que eu não bebia muito, não falava palavrões, tinha o cabelo pela cintura e atendia aquele telefone da sala de espera. Volto lá a cada três meses para conversar com a médica que foi – e ainda é – como uma mãe pra mim. Mãe mesmo, com os defeitos e carinhos que toda mãe tem.

Nos 20 minutos que sempre duram mais do quem uma hora a atualizo sobre dores, coceiras, namoros, dúvidas, problemas de família. Uma amiga disse que isso parece com prostituição. Eu acho que não por que nunca envolveu sexo.

Ela normalmente toca no assunto Deus e eu gosto de ouvi-la sem falar. Eu a escuto com a seriedade com que leio um bom jornal, sempre com um certo senso crítico. Ela não sabe realmente o que eu penso sobre as coisas, mas é uma das pessoas que mais me conhece. Na sua testa está escrito “experiência” e, no fundo, acho que ela sabe todas as coisas que eu não falo. Ela sempre tem uma opinião sobre os meus namorados. Basta descrever duas ou três características e já vai logo dizendo: é este, não é este... Até agora ela só disse que não era este, e teve razão todas as vezes.

Ela pega no meu pé por eu não almoçar e coisas assim, mas no meio disso sempre há uma filosofia inesperada que vale à pena escrever. Outro dia falei sobre a solidão. Sobre ter família, amigos e preferir viver sempre exilada. Então ela me disse que todos éramos sós e não havia nada que pudesse ser feito a respeito. Disse que na hora em que caminhamos na rua ou que levantamos de uma festa para ir para casa, nesses momentos, descendo as escadas pensando no horário em que precisamos acordar no dia seguinte, nesses momentos estamos sós. Não há solução para o fato de apenas nós mesmos ouvirmos nossos pensamentos.

Já faz quatro meses e eu não tive mais nenhuma crise de solidão.

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