terça-feira, fevereiro 20, 2007

O Grande Gol

Ontem uma amiga perguntou quais os meus planos para o futuro, perguntou se eu tinha algum grande “gol” a perseguir. E novamente eu senti aquela sensação estranha, quais são os meus sonhos, foi o que eu me perguntei, não tenho sonhos, esta é a resposta. Não é a primeira vez, tenho um outro amigo que sempre me pergunta e eu nunca sei bem o que responder. Passam sim vários desejos de realizações futuras pela minha cabeça, afinal não há quem não pense sobre ele, o futuro. Mas nenhum plano é suficientemente grande para poder ser chamado Sonho.
E respondi, não sei, acho que quero ser feliz, ela riu e respondeu, claro, eu ainda não sabia disso.
Então tentei pensar no assunto e o fiz em voz alta, devaneando com ela, altas horas da noite, eu no beliche de cima, ela no de baixo, acerca do que eu imaginava como projeto de felicidade plena. Falei que eu quero estudar, estudar muito mais do que já estudei, quero fazer um mestrado, um doutorado talvez, quero trabalhar e ter certa estabilidade para poder viver tranquilamente. Falei que não quero ter filhos, talvez me case, mas filhos por hora me parecem improváveis, talvez adotasse uma criança, tenho um senso de responsabilidade demasiado grande com relação ao assunto “fazer seres humanos”, até que a maturidade venha me mudar a idéia. Eu disse para ela, e foi isto que não consegui explicar direito, que o conhecimento do mundo e do ser humano, pode nos trazer felicidade. Ela discordou, disse que quanto mais alguém possui conhecimento, mais decepcionado com o mundo fica. Não consegui rebater a questão, prometi pensar no assunto, eu tinha tão claro isto na mente, mas não sabia como explicar a ela coisa que nunca antes havia sido verbalizada. Na minha cabeça esta idéia existe há muito tempo, mas apenas na linguagem dos pensamentos, e agora eu já não sabia traduzi-la.
Depois ela disse boa noite e eu fiquei mais uns minutos pensando sobre o assunto, até que adormeci. Agora voltei a pensar, vejo que eu não consegui explicar a ela o caminho que planejei para chegar à felicidade porque havia errado já no primeiro conceito. A plenitude da minha felicidade não reside hoje, e nem residirá no futuro sobre o qual falávamos, no conhecimento adquirido nas academias da minha vida.
Minha felicidade será plena na proporção em que pleno for o meu conhecimento não só da mente, mas também do coração humano, na proporção em que eu possa retribuir com sinceridade um desejo de bom dia, na proporção em que eu realmente me sinta bem em ajudar alguém, na proporção em que eu aprenda a amar, na proporção em que dos livros eu tire não apenas todo o conhecimento objetivo que me dará inteligência, mas todo o ensinamento de vida empregado pelos autores naquelas páginas, na proporção em que eu saiba renunciar inclusive a minha felicidade em troca da felicidade daqueles a quem amar, na proporção em que aprenda a não deixar que futilidades cotidianas abalem minha paz, na proporção em que eu ensine aos demais como serem felizes, na proporção da minha capacidade de mostrar-lhes que a felicidade não é utópica, é real e por vezes palpável.
Então repensando tudo isto, acho que posso sim afirmar que o único grande “gol” que eu desejo perseguir é a felicidade, e que isso não é assim nem tão comum, nem tão estranho.

3 comentários:

Anônimo disse...

que lindo... é, acho que você conseguiu colocar em palavras o que estava tentando me dizer. Nesses termos eu até que concordo, sabia...
VOu continuar pensando no assunto. Se achar mais alguma coisa do que discordar eu te conto.. haha
Bjsss

Anônimo disse...

vc tá certa ;]

Anônimo disse...

quem precisa de poesia com um texto tão sincero...