quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Dos bolos de pêssego

Os últimos dias foram de pouca inspiração para escrever. Diariamente eu sentava em frente ao computador e pensava em algum bom tema a cerca do qual divagar em muitas ou poucas linhas, mas nenhum assunto me parecia suficientemente adequado. Esta súbita fuga de ideias deu-se na noite do último sábado, quando, voltando de um passeio agradável no shopping com a minha mãe, chamei-lhe a atenção para a beleza da lua. Eu tenho esta, não sei se a palavra seria “mania”, acredito que mais um “gosto especial”, por observar a beleza de velhos clichês da natureza, como um belo luar, um bonito nascer do sol ou uma borboleta colorida. Mas a minha adorável mãe não se mostrou tão impressionada com o visual daquele céu noturno. Agora, recordando a cena, ocorre-me que ela possivelmente já observou o dobro de luares que eu durante a vida e, talvez, já esteja entediada. O fato é que ela me respondeu: “Não dá para olhar o céu e andar ao mesmo tempo, daqui a pouco eu bato num poste e não sei por que”. Na hora o comentário me fez rir muito, já que estávamos em uma rua larga, sem movimento algum, quase no portão do condomínio e não havia postes numa distancia de uns dez metros. Mas quando cheguei em casa e sentei na minha cadeirinha em frente ao computador, abri o editor de texto e aquela barrinha ficou piscando, piscando, como uma dedicada funcionária esperando que lhe dêem serviço ou como uma dedicada agulha esperando que lhe dêem o fio e a conduzam na construção de um belo trabalho. Por fim a barrinha deve ter ficado decepcionada, porque eu fechei o editor e fui dormir.
Nos dias seguintes reli todos os meus antigos textos e aproveitei o tempo ocioso, já que eu não o utilizava para escrever, lendo textos publicados nos blogs de alguns amigos. Reparei que eu não sou a única que tomo sempre a natureza e suas belezas como tema para as dissertações. Relembrei também o quanto eu sempre odiei bolo de pêssego e quadros de frutas e de paisagens amadoramente produzidos com tinta de pintar tecido. Não me perguntem que relação o bolo de pêssego tem com as paisagens em quadros amadores, porque não saberei responder de forma racional. Só o que sei é que, por algum destes motivos de ordem inconsciente, estes dois elementos estão diretamente interligados na minha mente e me passam a sensação de coisas mal feitas tentando imitar coisas inimitáveis.
Mas voltando ao assunto do qual eu já devo ter feito o leitor se perder, percebi então que os meus textos se parecem muito com as paisagens amadoras e com os bolos de pêssego e que, sinceramente, se eu no futuro me encontrasse com algum deles e não lembrasse da autoria, os acharia pouco atraentes para não dizer (dizendo) "chatos".
Não sei se esta percepção pode ser encarada como um contrato onde firmo o compromisso de não oferecer mais aos meus tão raros e caros leitores, bolos de pêssego. Talvez eu continue a fazê-lo porque, sim, confesso que isto às vezes me dá certo prazer, afinal é o que de melhor faço. Não, não se confunda amigo, meus dotes culinários são horríveis, o que acredito saber fazer, na verdade, é observar a beleza de pequenas coisas, que para mim são grandes, e codifica-las em palavras, de forma tão ou mais amadora que os quadros. É importante que tanto eu quanto vocês, consigamos nos dar conta de que há muito mais além do que vemos, que é possível que por trás do gosto estranho do bolo ou do contorno malfeito no quadro, haja algo para alguém que é realmente grande e especial. E isto é só o que importa.


Ou talvez eu só esteja tentando justificar alguns escritos ruins...

Um comentário:

Anônimo disse...

pode ficar tranqüila: teus escritos não tem nada de ruins. pelo contrário, você escreve com uma simplicidade descompromissada que torna muito interessante tuas palavras. são belas e não caem em lugares comuns. dá a impressão de que você senta pra escrever e as frases te surgem com a maior naturalidade do mundo. é um belo trabalho.