sexta-feira, outubro 02, 2009

Narciso

Já passa da meia noite e eu jurei que hoje ia dormir cedo. Em minhas intenções eu teria uma noite produtiva, mas não deu. Outra vez, num daqueles ímpetos narcisistas, fiquei relendo meu blog, retroalimentando minha mente de idéias para escrever sobre mim. Quando decido ter uma noite proveitosa normalmente o dia não foi tão cansativo e eu chego ao meu quarto no início da noite (nunca tão início) com considerável disposição. Aí reside o grande problema: minha energia se reverte em muita vontade de fazer coisas inúteis, como, por exemplo, assistir a novela do Manuel Carlos em stand by (palavras de um amigo), costurar um botão há tempos separado de seu casaco (que não tinha a mínima necessidade de ser consertado logo nessa noite), fazer uma lista dos livros que mais gosto (e esquecer a metade) ou escrever mais um texto inútil para um blog sem muita utilidade (esse).

Desliguei a televisão. A voz do apresentador já me dava dor de cabeça. Assisti o primeiro capítulo da nova minissérie. Achei uma merda, mas gostei. Eu também não vejo problema algum em ter dois namorados e não me importo que meus namorados tenham outras namoradas. Acho que todo mundo deveria namorar quem quisesse. Minha filosofia é que amor a gente só multiplica, nunca divide. Isso não significa que eu seja adepta da putaria, mas é bem difícil de fazer as pessoas entenderem. Talvez a Globo me ajude, espero que ela não estrague tudo outra vez.

A casa está estranhamente silenciosa. Acho que estou aqui há muito tempo e todos já foram dormir. Estou com vontade de tomar um banho, talvez eu durma melhor, mas eu não devo fazer isso. Quem convive comigo sabe que eu tenho certo TOC com banhos. Isso não faz de mim uma pessoa que precisa de tratamento, mas me causa um pouco de irritações na pele.

Alguém chegou ou saiu agora do prédio onde moro. Ouvi o portão bater e isso foi realmente impressionante, pois ele fica bem longe daqui. Pode ter sido um ladrão, uma amante, um estudante dedicado, um doente, um trabalhador, não sei, não conheço meus vizinhos.

Ontem, no caminho de volta para casa, apertei os passos para chegar mais rápido. Caía uma chuva muito gelada que dava um sentimento de angústia. Lembrei de uma das sensações mais marcantes que vivi. Hoje de manhã, fazendo compras, lembrei de outra experiência que ficou gravada e que, coincidentemente, aconteceu na mesma semana. Na época registrei essas vivências e agora, ao invés de escrever novamente, apenas as reapresento aqui.

Quinta-feira, Janeiro 17, 2008

Peripécias da Solidão II

Siga em frente, agarre uma cestinha e vire à esquerda. Vamos! Você pode fazer isso! Afinal já fez muitas vezes. Mas agora é diferente, é a primeira de muitas outras vezes. E as pessoas em volta não podem imaginar o quão idiotas são os seus pensamentos. Vire à direita agora. Agarre-se na cestinha para não cair. Você precisa de macarrão instantâneo e mais algumas coisas que venham com a quantidade de uma só porção e possam ser preparadas no microondas. Quem sabe umas verdurinhas? Sim, elas estão logo à esquerda e não vão permitir que você fique desnutrida. Uma cenoura, um pimentão. Parece exagero um pimentão inteiro só para você, mas o homem que pesava os vegetais demonstrou curiosidade nas quantidades empacotadas. Agora ao macarrão instantâneo! E no caminho você lembrou que um pouco de café solúvel e leite seriam úteis. Mas a caixa de leite e o pacote de açúcar parecem enormes. Como nunca percebeu? O leite não tem jeito, não vendem em quantidades menores. Acabou optando por um frasquinho de adoçante dietético. “Vai acabar emagrecendo”, pensava quando passou pelos minipãezinhos. Ó, quase se esquecera deles! Meia volta: ainda bem que inventaram a margarina em embalagens pequenas. Agora ao macarrão! No caminho uma promoção de ovos com caixinhas de meia dúzia (Mas que abençoada idéia!). Finalmente o macarrão instantâneo. Cinco pacotes: um para cada dia da semana. “Vai acabar enjoando”, pensava quando surpreendeu o olhar curioso do pai de família, que empurrava um carrinho cheio, sobre a sopa individual express que você descobriu.

Quarta-feira, Janeiro 16, 2008

Peripécias da Solidão I

Final de tarde. Naquele dia incrivelmente sobrara tempo. Não que não houvesse o que fazer, havia uma vida inteira pra reconstruir... Sobrara tempo porque jogara tudo para o alto. Dane-se! Simplesmente percebera que muitas das coisas com as quais costumava se preocupar não faziam sentido algum.
Naquele final de tarde o sol parecia gritar: “Estou fazendo um final de tarde!” A Luz que entrava pela sacada do estranho apartamento aprofundava ainda mais o silêncio. Ligar a televisão ou o rádio - uma tentação pecaminosa. Aquele era o próprio santuário da solidão.
Que estranho vazio. Que estranha inércia a impedia de acabar com ele. E o celular ali, resplandecendo a ameaça de tocar.

Terça-feira, Janeiro 15, 2008

O maior vazio que se pode sentir é a falta de um lugar para voltar. Pode parecer divertido no primeiro dia e ainda é divertido no segundo. Mas no terceiro, após um dia cansativo de trabalho, após enfrentar uma chuva gelada na volta para casa (casa...?), vem o vazio.De repente você se dá conta de que não vai tomar um banho no chuveiro com o qual se acostumou, não vai abrir o armário e pegar o pijama mais confortável, não vai abrir a geladeira com desenvoltura, pegar o que quiser e fechá-la com o pé. Você não vai mais ligar a tv no canal que quiser e passar o resto da noite no MSN conversando com um colega qualquer.
Você vai se pegar sentado no pé de uma cama estranha, em um quarto estranho da casa de uma pessoa estranha. Vai estar cansado, mas a sua vergonha de se deitar vai ser maior. Nesse momento você vai lembrar de como os livros ficaram legais arrumados da última forma que você os deixou, vai lembrar do violão do qual, embora estivesse a tempos empoeirado e esquecido em cima do armário, você gostava para valer. Vai doer mesmo no momento em que você se der conta de que nunca mais vai deitar na sua antiga cama. E sabe o que é ainda pior? O mundo. Ele não vai parar porque você está com cara de choro. E essa é a forma mais simples e batida de aprender que o mundo é cruel.
Mas ao poucos, a sua vida, como um muro de tijolos que desmoronou, vai sendo reconstruída. Logo você se acostuma com um novo chuveiro, arruma uma nova forma de almoçar, deixa o seu cheiro em um novo cobertor, encontra novas pessoas para amar, perdoa e é perdoado pelas antigas pessoas que você amava.


Na época um amigo comentou um dos textos assim:

Há dias em que se joga tudo pra cima...
E as coisas caem perfeitamente...
Em seus devidos novos lugares...

Um comentário:

“TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR” disse...

Olha Fran seu blog é algo muito especial pra mim, aqui me alimento de algo que transcendi a minha razão. Continue sempre escrevendo.

Beijo.

Willian