quarta-feira, novembro 25, 2009

O prisioneiro

Na metade da tarde há um horário em que quase diariamente vou ao Fórum de Joinville. Eu trabalho ali ao lado e, embora aquela rua seja importante, pois nela ficam os prédios dos três poderes na cidade, não há muito onde comer por lá. Então, como eu ia contando, costumo ir ao Fórum comprar alguma coisa para acabar com aquela dorzinha de cabeça que vai dando da fome.

Na quinta-feira passada eu fui lá fazer exatamente isso. Passei pela porta principal de entrada e fui direto ao caixa eletrônico sacar dinheiro para comer. Ao lado da máquina havia um aglomero de homens fardados, mas eu nem prestei atenção, afinal isso é normal por lá. Foi só por causa da fila do caixa, fixei os olhos naquele amontoado de pessoas sem saber exatamente para o que estava olhando e, de repente, comecei a sintonizar o que acontecia. Circulando um homem tinha uns cinco policiais e a advogada dele. Agarrada com um braço só ao cara no meio da roda tinha uma mulher cuja saia e cabelos compridos denunciavam ser evangélica. No colo dela, uma menininha de uns dois anos de idade que também o tocava.

Não sei há quanto tempo estavam assim. Os policiais pareciam comovidos e ninguém queria o tirar à força daquele emaranhado de braços femininos. Aí um deles terminou de conversar com a advogada e fez um sinal com a cabeça. O prisioneiro, que nem algemado estava, falou à mulher que precisava ir e ensaiou um passo. Ela o segurou pela cintura, ele falou alguma coisa que não pude ouvir, deu um beijo apaixonado em sua boca e um beijo carinhoso na cabeça da garotinha. Depois saiu pela porta com os policiais e a mulher ficou parada, olhando e chorando com a criança no colo. Ela parecia... precisar dele para viver.

Saí do Fórum sem ter feito o que fui lá fazer. Perdi completamente a fome e a vontade de qualquer coisa. Comentei com uma amiga depois, disse a ela que eu não sabia o que ele tinha feito, mas que aquilo me parecia muito injusto. Acho que de todos que eu contei essa história ela foi a que mais entendeu meu sentimento. E me disse assim: a culpa nessa sociedade é sempre uma coisa muito relativa.

Nenhum comentário: