sexta-feira, abril 27, 2007

Ela a abraçava como quem abraça a última de todas as esperanças da vida. Estavam sentadas em frente a mim e a senhora magra abraçava aquela garotinha também muito magra como quem agarra um urso de pelúcia. Os olhos da menina representavam um elemento significativo na constituição da cena, expressivos como se vindo de alguma fotografia célebre dos tempos das fotografias célebres.
Imaginei porque aquela mãe estava tão desesperada, porque apertava a menina com tamanha intensidade.
A garotinha parecia entender; Embora pequenina, era certo que compreendia perfeitamente aquela carência, porque cedia com resignação emprestando o pequenino ombro para o encaixe do queixo materno.
Sorri para ela. Os olhos eram muito tristes. Pensei em fazer-lhe sorrir nem que fosse por uma fração de segundo. Ela não respondeu o intento, seus olhos me encaravam loucamente, miravam diretamente os meus, perpassavam-me, tocavam-me a alma. O que ela pensava?
Era hora de sair, nunca mais às veria, olhei ainda uma vez para trás, o olhar da garota sob os braços da mãe me acompanhava.

2 comentários:

Anônimo disse...

Compreender a dor de um olhar é pior do que compreender o próprio olhar...
Há alguns dias vi olhares assim.
No olhar da menina um sono arrebatador, no olhar da mãe um medo incompreensível.
Mas a mãozinha da filha apertava tão segura a mão trêmula da mãe que o medo só poderia ser o de soltar.

Anônimo disse...

ainda bem que uma criança não tem consciência de como nós, mais velhos, lamentamos e invejamos tudo o que gente perde quando cresce, incluindo o conforto do abraço.