domingo, novembro 06, 2011

O hospital


Tinha um cheiro de velho misturado com bosta. Um odor azedo e, ao fundo, todos os tipos de remédios. Isso tudo estava impregnado nas paredes. E eu que tenho mania de contaminação, não tinha para onde fugir. Estava presa por uma noite naquela grande massa de concreto branca cheia de massa humana azeda. Ali nada era alegria, nem tristeza, tudo lembrava resignação. Meu pensamento mais frequente naquelas horas foi de que seria melhor para eles morrerem de uma vez. Menos o menino do quarto ao lado. Só tinha a cama dele lá. Acho que a mãe o acompanhava, havia uma cadeira de rodas e um aparelho daqueles que medem os batimentos do coração. No início da noite faltou luz, já faltava há algumas horas. Os aparelhos de oxigênio de um quarto próximo berravam, era um barulho estridente, insuportável, avisavam que se não ganhassem energia, seria o fim. Gritaram por um longo período, até que a luz voltou. Minha avó desceu três vezes da cama sem força para voltar e arrancou o oxigênio outras duas. Pediu para que tirasse e colocasse o cobertor muitas vezes e para que coçasse suas costas. Enquanto isso, a velhinha ao lado levantava de tanto em tanto para fazer xixi e voltava com um copo de plástico cheio.“Para coletar”, contou. Eram muitos litros de urina, todos os litros de urina. Ela não devia perder nenhuma gota.

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