sábado, dezembro 09, 2006

A Preguiça

Hoje me lembrei de um episódio em meu passado. Devia eu estar beirando uns quatro ou cinco anos. Morava-mos ainda todos juntos na casa do Bom Retiro. Devia ser domingo porque meu pai assava carne na garagem. Sim havia uma churrasqueira na enorme garagem que ficava nos fundos da casa também muito grande. Talvez ela nem fosse tão grande, é que quando crianças sempre imaginamos as coisas maiores do que realmente são. Ou talvez as coisas sejam realmente maiores, é uma questão de ponto de vista. Sim, sim, agora me lembro, eu tomava alguma coisa. Envergonha-me um fino fio de lembrança que delata a possibilidade de eu ter nas mãos uma mamadeira, mas não há certeza quanto a isto, é cabível que eu, com a idade que, acredito, tinha nesta época, tivesse nas mãos um copo. Meu pai falou alguma coisa, talvez ele tenha me pedido algo ou talvez não tenha dito coisa alguma. O que vivo está na minha memória é que eu comentei, muito natural e ingenuamente, que eu estava com preguiça, ao que ele me respondeu aquele que seria um forte juízo de valor enrustido na minha personalidade até muito tempo depois, mas não pode ter preguiça, a preguiça é uma coisa muito feia. Ele falou aquilo de forma muito amável, lembro-me sempre de um pai muito amável, um bom pai, ausente por muitos anos, presente por outros tantos, hoje longe, mais por eu não seguir tão a risca a regra em questão.
O que me impede de ir atrás dos meus sonhos, de procurar pessoas que muito amei e ficaram perdidas no passado, de lutar por um mundo melhor, de ler mais livros, de fazer todas estas coisas que o meu coração gostaria que eu fizesse? Por que será que aquela frase se esvaiu no mar dos meus julgamentos e, no entanto, permanece tão forte em minha memória? Por que será que eu me senti tão envergonhada com o que o meu pai falou? Por que será que até hoje sinto vergonha do que eu sentia naquele momento? Ou será que quem se sente constrangida não é mais a garotinha de cinco anos e sim a garota de dezoito?
Na verdade existem coisas que a gente é, coisas que a gente não gostaria, mas é. E isto é tudo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu discordo.
Preguiça é uma coisa comum, não há como ser imune a isso.
Acho que só é feio quando você tem tempo de sobra, mas não faz nada, aí sim! Fora isso, eu vejo como uma espécie de descanso extra que a gente enquadra no horário.
Sobre a preguiça impedir de ler livros, tudo bem, é sempre culpa dela! Mas será que é por preguiça que alguém deixa de ir atrás de sonhos e de procurar quem ama? Nananinanão... Se há uma coisa que nem a preguiça conseguir impedir é fazer o que o coração manda! São outros os motivos que impedem isso: medo, insegurança, mágoa, orgulho, etc.
Imagine só uma noiva, em meio a todos os aparatos do casamento... Ela senta e diz: "Cancele tudo, mon amour! Não vou casar porque tô com PREGUIÇA!" Isso não acontece!
Às vezes eu sou mal interpretada, como se fosse uma lunática, justamente por fazer o que o coração pede, por tomar atitudes até então vistas como "exageros" e, apesar disso, eu sou uma preguiçosa! Eu adoro descansar sem estar cansada... Até a hora que o meu coração der alguma ordem.
Outra coisa: um churrasco num domingo, com a família reunida, 4 ou 5 anos com mamadeira... Bah... Até eu teria preguiça!

Anônimo disse...

Eita, a preguiça não deixa atualizar... rsss

Anônimo disse...

Lembrei do Macunaíma! Putz, aí sim a preguiça é feia... huahuahuahua