domingo, outubro 30, 2011

Bichinhos


Recentemente tive problemas com bichinhos. A culpa não foi só deles, sabe? Devem ter sido as janelas, ou as deixei muito fechadas ou muito abertas. Andei sacundindo tudo, limpando o que era possível ser limpo. Então eles sumiram. Às vezes sei uma coisa ou outra deles, mas nunca mais os vi. Sobrou eu, toda machucada. Sempre fui assim meio sensível. Agora é esperar sarar e tomar mais cuidado daqui pra frente.

quinta-feira, outubro 20, 2011

João de Barro


O João de Barro se debateu a noite inteira. Lutava pela vida, preso em sua própria casa. Pela manhã tentei ajudar, mas terminei de matá-lo. Sinto-me um pouco mais só agora, pela manhã ele não vai mais me incomodar, minha casa ficou triste.

...

Ela está morrendo. Mais uma vida de merda que se vai. E eu fico aqui lembrando da imagem que tenho sobre a história dela, de tudo que ela contou, de tudo que contaram. Acho que ela nunca foi feliz e a culpa é toda do mundo. Eu não teria nascido sem todo o sofrimento dela. Ela lutou muitas vezes pela vida, mas um dia a vida cansa. Assim é a porra do mundo.

quinta-feira, outubro 13, 2011

Bad Weather

Pra quem acha que em dia de chuva tudo é cinza...
Foto de Danny Santos em http://www.behance.net/dannysantos

Sobre a raiva

Quando eu penso muito tenho raiva
Mas a raiva não mata o sentimento, alimenta.

Vinicius

Vinicius embalou algo que agora é uma das minhas mais doces lembranças. 
Mas na certa você não lembra disso. 
Até quando eu vou lembrar?

sábado, outubro 08, 2011

Pare o mundo que eu quero descer

Ela anda se sentindo irritada com o mundo. Perguntando por aí se tem alguma forma de fugir dele, desembarcar no Universo para algum lugar mais evoluído. É muita prepotência, ela sabe, mas por aqui as coisas andam realmente tristes e é difícil lutar contra tantas evidências de que o mundo está realmente perdido. 

Porém, ela tem alguns camaradas e lê algumas coisas que salvam os dias. Ela queria que o planeta todo fosse assim. Na verdade, que fosse ainda melhor, mas nesse rumo.

Ela sente que está se formando uma cratera cada vez maior entre o que eles se tornaram e o resto da Terra - eles que há pouco eram tão crianças. No entanto, o desafio é justamente utilizar todo esse conhecimento para mudar as coisas...

Que acabou...

Daqui a pouco farão três dias em Saturno. Isso já não significa muito pra mim, mas eu não poderia desembarcar dessa história e perder a oportunidade de fazer tão bonita alusão.

sexta-feira, outubro 07, 2011

Leviatã

“Mas porque, entre as muitas impressões que os nossos olhos, ouvidos e outros órgãos recebem dos corpos exteriores, só é sensível a impressão predominante, assim também, sendo a luz do sol predominante, não somos afetados pela ação das estrelas. E quando qualquer objeto é afastado dos nossos olhos, muito embora permaneça a impressão que fez em nós, outros objetos mais presentes sucedem-se e atuam em nós, e a imaginação do passado fica obscurecida e enfraquecida, tal como a voz de um homem no ruído diário...”

Um cara chamado Hobbes escreveu isso em um livro chamado Leviatã, em 1651, na cidade de Paris.

Tem alguma coisa dentro do ser humano que nunca muda...

terça-feira, outubro 04, 2011

Leminski


Mosaico de Cida Carvalho, paranaense residente no Distrito Federal

Manoel de Barros

"Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com os sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim: O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz. Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem. Perdoem-me os leitores desta entrada mas vou copiar de mim alguns desenhos verbais que fiz para este livro. Acho-os como os impossíveis verossímeis de nosso mestre Aristóteles. Dou quatro exemplos: 1) É nos loucos que grassam luarais; 2) Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades".

~ Manoel de Barros ~

Obrigada à amiga Jozi

Tudo bem

Escondido atrás dessa cara de brabo há uma criança
Que pede colo
Não é dado a falar
Mas quer que eu esteja lá
Eu não consigo compreender muito bem o seu mundo
Tudo bem, pois ele também não entende nada do meu
Compactuamos nas ideias e na juventude
Nenhum dos dois é muito fácil
Eu gosto de viver minha vida
Ele, eu ainda não sei
Só temos certeza das dúvidas
E da vontade, cada vez maior, de estar lado a lado