domingo, maio 27, 2007

"Uh... Nunca disse, te amo
Nunca disse, te estranho
Nem importa mais"
"Tarde turquesa
Quarenta graus
Talvez porque você não esteja
tudo lateja
Tarde sem nuvem
Cinqüenta graus
Talvez por sua ausência
tudo derreta
Noite sem ninguém
Nada se mexe
Eu sonho nosso amor a sério
E você em outro hemisfério
Enquanto tudo derrete
Enquanto tudo derrete
Enquanto tudo parece
Derreter"

(Adriana Calcanhoto)

terça-feira, maio 22, 2007

- Maria Inconstância é muito incostante.
"Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei"

domingo, maio 20, 2007

Maria Inconstância

Maria Inconstância já não é mais uma adolescente, mas também ainda não pode ser chamada de mulher, está naquela fase em que as pessoas lhe referem por “moça”.
Ela é bonita, já houve até os que lhe achavam muito linda, mas existe entre as pessoas do seu círculo social um consenso de que ela poderia ser mais magra.
A família de Inconstância nunca foi como as dos comerciais de margarina, é uma família tão cheia de pormenores enrolados que mesmo ela, quando vai contar sua história de vida para alguém, se perde. Existem aí alguns pontos obscuros. É certo que são poucos, mas fazem muita falta para o bom entendimento de certos caminhos do destino familiar. Mas é muito raro pegar Inconstância pensando nisso. Ela costuma tentar se convencer de que é uma pessoa bem resolvida e pessoas bem resolvidas não ficam remoendo o passado.
Ela, caso lhes interesse saber, tem três irmãos. Um ela nunca vê, embora se culpe por isso a cada vez que lembra; uma é um pouco emo, mas Inconstância não se preocupa muito com isso, pois crê que é apenas uma fase; a terceira já foi muito sua amiga, foi quase como uma mãe em algumas épocas da vida, mas agora essa terceira encontrou Jesus e está perdendo um pouco a família. Inconstância não consegue ignorar isso e fica realmente muito brava. Inconstância não acredita em Deus e acha que a Igreja é o ópio do povo.
Mariazinha, como a sua mãe costumava lhe chamar na infância, descobriu desde cedo que seus valores familiares e seus óculos lhe impediriam de ser bem aceita nos grupinhos mais legais da escola. Então, ela disse pra si mesma que não precisava de amigos idiotas e foi uma criança sozinha e meio depressiva. Na sétima série já havia lido todos os livros da casa e grande parte dos da pequena biblioteca da escola pública, que ficava em um morro cheio de vegetação na periferia.
Maria Inconstância fantasiava outras vidas na sua cabeça, ela chamava isso de “brincar”. Nas vidas que inventava, às vezes imaginava que toda a família tinha morrido ou que o menino da oitava série finalmente tinha declarado que sempre a amara, ou que ela descobria de repente que era milionária. Depois ela se culpava e rezava muito para que Deus perdoasse pensamentos tão pecaminosos. Mas isso foi antes de ela deixar de acreditar em Deus.
Faz pouco tempo, ela conseguiu sentir aquilo que já sabia há muito tempo. Descobriu que não precisava combinar as roupas com os calçados, conseguiu finalmente se convencer de que as pessoas que queria ter envolta, eram as que gostavam de coisas muito coloridas. E que não queria namorados que a admirassem pelas roupas que usava.
Inconstância está se achando muito intelectual ultimamente, está se sentindo como queria se sentir. Está começando a ser aquilo que trabalhou mentalmente toda a vida para ser – não em aspectos materiais, mas intelectuais. Ela não sente mais vontade de ver televisão e não suporta mais comentários preconceituosos; não é uma pessoa intolerante, gosta de admirar pessoas com conhecimentos adquiridos em lugares que não a academia, gosta das pessoas que sabem mesmo é da vida; ela tem lido mais e entendido mais o que lê; está começando a entender de cinema e no seu rádio o que toca são músicas de qualidade.
Ela acha que está superando aquela enorme carência que sempre teve e nunca admitiu. Mas sabe que ainda não perdeu a mania de se expor mais que o necessário para chamar a atenção. Maria Inconstância acha essa sua atitude muito infantil e acredita que às vezes seus amigos enjoam deste seu ego disfarçadamente estufado, mas outras vezes ela tem certeza de que é tudo produto da sua fértil imaginação.

domingo, maio 13, 2007

Hoje é um daqueles dias em que algo lhe dói. Tudo dói, mas o quê não é identificável. Hoje é um daqueles dias de inércia, do corpo pesado, do pulso doendo. Hoje os problemas latejam forte na mente, mas o autocontrole os suprime e o que deveria incomodar deixa apenas a sensação angustiante de que há algo fora do lugar. O sono acumulado e irrecuperável, para sempre perdido, transformando-se – já que nada no mundo se perde – em uma aguda dor de cabeça. E ela é tão jovem e tem ainda a vida toda para utilizar-se do braço que chateia, e as enxaquecas e o sono que lhe deixa desdenhosa da vida. E, no entanto, Nunca lhe vêem chorar.

sexta-feira, maio 11, 2007

Cores de Frida Kahlo


Frida Kahlo The Love Embrace of the Universe, the Earth, Myself, Diego and Señor Xólotl, 1949

quarta-feira, maio 09, 2007

A ruela estava estática, apática. Grãos de poeira pintavam o ar e no chão, a sujeira. A brisa soprava me lembrando que ali havia algo real. E aquele alarme que gritava: “SOLIDÃO, SOLIDÃO”. E a esquina que me trouxe de volta à vida.

quarta-feira, maio 02, 2007

Brincar de Viver

Quem me chamou
Quem vai querer voltar pro ninho
E redescobrir seu lugar
Pra retornar

E enfrentar o dia-a-dia
Reaprender a sonhar
Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação

A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não
Você verá que a emoção começa agora
Agora é brincar de viver
E não esquecer, ninguém é o centro do universo
Que assim é maior o prazer

Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação

E eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho
Como eu sou feliz, eu quero ver feliz
Quem andar comigo

Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não.


Guilherme Arantes